VERDADES QUE TRANSFORMAM

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Neste texto  iremos discutir as diferentes concepções da verdade em diferentes línguas, em Grega, latina e Hebraico segundo a autora Chauí (2008,p.95-96). Em grego a verdade se diz alétheia se refere a auto manifestação da realidade ou a manifestação dos seres uma visão intelectual dos humanos. Em latim verdade é veritas corresponde a maneira de narrar os fatos acontecidos, a maneira de narrar determinará a verdade dos fatos. Em hebraico é Emunah, e está relacionada com Deus e com o ser humano, tem uma relação divina, está ligada a profecias.

Quando falamos em verdade estamos nos referindo a dúvidas, incertezas, vontades em conhecer o que está escondido e oculto aos nossos olhos e essas dúvidas e incertezas e vontade de conhecer que nos faz querer compreender o que é a verdade? E como ela pode nos transformar?

FILOSOFIA  E AS VERDADES

Definir filosofia é algo complexo e polêmico, não se conceituando de forma exata e clara. Ao longo da história universal, vários pensadores apresentaram suas ideias sobre o que seria a filosofia, mas nunca se estabeleceu um consenso da sua essência. Daí a importância de que para ter uma resposta definida desse conceito, a necessidade de entender sobre o contexto histórico da mesma.
A filosofia tem início na antiguidade, Grécia Antiga, início de século VI a.C, Tales de Mileto é reconhecido como o primeiro filósofo a buscar uma origem racional para o surgimento de universo, porém Aristóteles foi o responsável por afirmar que Tales foi o primeiro filósofo e reconheceu que Pitágoras formulou a origem do termo filosofia, uma junção dos vocábulos gregos “philos” (amor) e “sophia” (sabedoria/conhecimento), o que significa “amante do conhecimento, da sabedoria”.
As condições históricas para o surgimento da filosofia se deu por uma série de fatores, tais como: o comércio, as navegações e a diversidade, o surgimento da escrita alfabética, surgimento da moeda, invenção do calendário, surgimento da vida política e o surgimento da razão, que conduziu a relativização do pensamento, a desmitificação e a busca de melhores explicações sobre a realidade, como afirma Maurice Merleau Ponty “a verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo”.
Antes do surgimento das cidades-estados na Grécia Antiga, o pensamento, a existência humana e os problemas do mundo eram explicados de maneira mítica. As explicações eram baseadas na religião, mitologia, história de deuses e fenômenos da natureza. A filosofia foi essencial para o surgimento de uma atitude crítica sobre o mundo e os homens. A atitude filosófica faz parte da vida de todos os seres humanos que devem questionar sobre sua existência e também sobre o mundo e universo, e é neste contexto de questionamento e investigação que é produzido o conhecimento.
A clássica passagem do teeteto, 201 a.C, define como o conhecimento a crença conectada à verdade a partir de boas razões e sólidas evidências, justificadas – “ligada”, “atada” e realidade pelo logos. Neste momento surgem diversos questionamentos para o racional, e as crenças, os pensamentos que eram míticos vão se justificando, dando o pensamento racional e crítico, formando a filosofia.
Justifica – se que com o termo logos, Platão quer mostrar em relato “racional” e “inteligível”, de porque a crença é verdadeira. E está centrada na justificação, razão e explicação como explana Sócrates, “as crenças verdadeiras são belas, mas não querem

permanecer muito tempo e fogem rapidamente da alma e só tem valor quando são encadeadas ou um raciocínio causal (logos)”, chegando a conclusão de que o conhecimento é “crença verdadeira com um logos”.
Sendo o conceito de logos centrado no pensamento lógico, inteligente, reflexivo e que em alguns está adormecido e limita-se ao pensamento imediato e em outros é utilizado de modo consciente e penetram profundamente na verdade. Cria-se uma perspectiva que a filosofia passa a criar novos significados de mundo, sempre transformando a si mesmo e ao meio, permitindo que o pensamento seja impulsionado sempre adiante com conhecimento. Sendo assim a filosofia segundo o filósofo Kant é uma maneira de se estabelecer uma crítica do conhecimento. É também uma palavra grega que consiste no estudo da existência de tudo, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos, à mente e a linguagem. Já para Sócrates e Descartes o saber filosófico ocorre por definições puras e imutáveis que buscam por uma verdade.

TEORIA DA VERDADE

O conceito de verdade vem desafiando a sociedade a muitos séculos. Uma grande pluralidade de pessoas definem a verdade como crença, porém, há cerca de dois mil anos atrás os Sofistas e Pré Socráticos vem debatendo essa temática.
Os Sofistas mais famosos foram Protágoras e Górgias, para eles não tinham verdades vitalícias, válidas para sempre. Protágoras dizia “O homem é a medida de todas as coisas”, então todas as coisas giram em torno do relativismo da nossa vida, e cabe a nós a decisão de certo ou errado. Górgias afirma “Tudo é diferente no pensamento do outro”, é nos cabe não nos colocarmos como donos da verdade e respeitar os diferentes pontos de vista. Então as posições sofistas defendiam a cultura do relativismo, por considerar que não existiam verdades absolutas, mas apenas relativas que mudam com o passar dos anos e pessoas.
Na passagem dos anos veio Platão, que achava irrefutável as ideias de verdades vitalícias, ele pensava que de certo as coisas mudam, nascem e morrem mas certo também que existam coisas que não mudam tampouco morrem. Platão via como dois mundos o das ideias (inteligível) e o das aparências (físico), para ele nós temos duas partes: um corpo corruptível e uma alma imoral, que tem origem no mundo das ideias, no entanto o mundo das aparências tenta impor diálogos sobre nós (agir inconsciente), para nós afastar das opiniões do mundo das ideias.

TIPOS DE VERDADE

“Verdade”, portanto, deve ser definida como a propriedade de uma proposição quando há correspondência com a realidade A busca pelo conceito de verdade transpassou as eras e a mente humana. Em toda a história da filosofia, aquilo que é chamado de “verdade” foi definido de diversos modos. Esse é um trabalho que fala sobre a verdade, sobre o ser verdadeiro, o considerar algo como sendo verdadeiro. Várias literaturas pontuam que o ser verdadeiro é dependente ou do esquema conceitual, da linguagem, da cultura ou da época histórica. É comumente aceito entre os filósofos, desde Platão e Aristóteles, que apreendemos a verdade quando o discurso (logos) que usamos para descrever a realidade é correspondente à realidade em si mesma. No entanto, e principalmente ao longo do tempo, a concepção de verdade deixou de ser uma. O autor enfatiza a importância de dissociar a verdade de certeza, uma vez que esta última continua sendo uma crença: “um estado subjetivo em que alguém crê que algo seja verdadeiro, podendo não sê-lo.” Dentro dessa linha tem-se as verdades absolutas e relativas.

VERDADES RELATIVAS

Algumas concepções filosóficas defendem a ideia de que a verdade é relativa de pessoa para pessoa, e nesse sentido, não há verdade absoluta, apenas verdades relativas a pessoas e preferências ou pontos de vista. Essa teoria de verdade relativa se propõe como definições do que é a verdade, as quais buscam descrever algo do mundo real. Se conclui que verdade relativa diz que uma afirmação é verdadeira porque descreve uma realidade ontológica e epistemologicamente objetiva, ou seja, a verdade é verdade em uma única vez e em um único lugar. É verdade para algumas pessoas e não para outras. É verdade hoje mas pode não ter sido verdade no passado e pode não ser novamente no futuro, sempre está sujeito a mudança. Também está sujeito à perspectiva das pessoas.

RELATIVISMO

De acordo com Platão, Protágoras foi o autor da frase “o homem é a medida de todas as coisas”. Sócrates interpreta Protágoras dizendo: “Não quererá ele, então, dizer que as coisas são para mim conforme me aparecem, como serão para ti segundo te aparecerem? Pois eu e tu somos homens”. Protágoras foi, mais tarde, criticado por Aristóteles por seu relativismo, o qual negava o princípio da não-contradição. Aristóteles lamentou haver filósofos, que ao invés de “buscar a verdade”, ensinava doutrinas contraditórias e de acordo com o Filósofo, tal doutrina deve desanimar, e com razão, qualquer um que queira começar a filosofar, pois “Buscar a verdade seria como correr atrás de um pássaro voando.”

Essa proposta de Protágoras foi chamada de relativismo individual. Porém existem várias formas de relativismo existem. E um dos pensadores mais conhecidos que defendeu certa forma de relativismo contrária a de Aristóteles foi Friedrich Nietzsche. Esse filósofo não defendia que todas as crenças eram verdades, para ele o homem, diante do caos do mundo e da vida sentiu necessidade de colocar ordem em tudo. Ao desenvolver seu intelecto, o homem, para a sua sobrevivência, criou ilusões e mentiras com a pretensão de serem verdades. E foi assim que nasceram as interpretações do mundo. Por crer que o homem é o criador do conhecimento, Nietzsche rejeita a noção platônica de que o homem descobre a verdade na essência das coisas. Para ele, se o homem descobre a verdade ao invés de criá-la, então ele está aprisionado pelos fatos do mundo, de modo que o conhecimento verdadeiro anula a vontade do indivíduo.

RETÓRICA

Exímio na arte da retórica, o filósofo Górgias afirma que a mesma é:

“Uma arte, a arte de bem falar, de mostrar eloquência diante de um público para ganhar a sua causa. A retórica é arte de persuadir com o uso de instrumentos linguísticos. Significa a arte da persuasão por meio de palavras.”

Assim, a retórica é utilizada na linguagem, de forma eficiente, construindo uma argumentação que visa o convencimento para influenciar a deliberação e a tomada de decisões. A retórica era compreendida entre os gregos como a estrutura básica do direito e da política, a “arte da persuasão” era uma questão fundamental para a tomada de decisões na democracia grega. A retórica surge de forma organizada e sistematizada a partir da atuação dos sofistas, como forma de convencimento e persuasão. Os sofistas passaram a ter um importante papel no sistema político grego. Por não acreditar na existência de um conhecimento verdadeiro, a perspectiva sofista compreendia a verdade como uma perspectiva validada pela argumentação eficiente.
O sofista Górgias definiu a retórica como: “persuadir por meio de discursos, os juízes nos tribunais, os conselheiros no conselho, os membros da assembleia na assembleia e em qualquer outra reunião pública.” Assim a retórica foi abordada por outros filósofos, tais como Aristóteles que pontuava a retórica, como persuasão pela argumentação, segundo ele ela deveria ser percebida como uma técnica fundamental para a política, capaz de demonstrar de forma prática as teses a serem defendidas.

VERDADES ABSOLUTAS

A verdade absoluta é usada para referir-se a crenças dogmáticas, que são mantidas sem justificação e sem disposição para revê-las frente a novas evidências, portanto tudo quanto é verdade uma vez e em um lugar é verdade todo o tempo e em todos os lugares.

IRONIA

A ironia vem da expressão grega que significa “perguntar, fingindo não saber”. Esse primeiro momento do diálogo socrático possui um caráter negativo, pois nega as pré- concepções, os pré-julgamentos e os pré-conceitos (preconceitos). A ironia era composta de perguntas feitas ao interlocutor com o objetivo de deixar claro que o conhecimento que ele julgava possuir, não passava de mera opinião ou uma interpretação parcial da realidade.
Sócrates, o não conhecimento ou a ignorância é preferível ao mal conhecimento (conhecimento baseado em preconceitos). Com isso, as perguntas de Sócrates voltavam-se para que o interlocutor percebesse que não está seguro de suas crenças e reconhecesse a própria ignorância. Sócrates, com suas perguntas, muitas vezes incomodava seus interlocutores e estes abandonaram a discussão antes de prosseguir e tentar definir o conceito.

MAIÊUTICA

No método socrático a maiêutica tem o significado de “parto”, e segundo Petrelli, a apresentação tradicional do método socrático versa pela “condição para se produzir ou parir o verdadeiro conhecimento. Sócrates compreendia que as ideias já estão dentro das pessoas e são conhecidas por sua alma eterna. Para o filósofo, ninguém é capaz de ensinar alguma coisa a outra pessoa. Somente ela mesma pode tomar consciência, dar à luz a ideias. A reflexão é a forma de atingir o conhecimento. Por isso, é importante concluir a maiêutica. Nela, a partir da reflexão, o sujeito parte do conhecimento mais simples que já possui e segue em direção a um conhecimento mais complexo e mais perfeito. E foi nesse contexto de reflexão que Sócrates serviu de base para a “teoria da reminiscência” desenvolvida por Platão:

Sócrates recebeu do Oráculo de Delfos uma mensagem que afirmava que ele era o mais sábio dentre os homens gregos. Questionando-se, Sócrates disse sua célebre frase: “Só sei que nada sei”, como poderia ser o mais sábio.

O filósofo percebeu que questionar e tomar consciência da própria ignorância é o primeiro passo na busca do conhecimento. Sócrates não exprimiu pretensão de adquirir mais conhecimento das coisas, e sim mais liberdade de si mesmo.

VERDADES QUE TRANSFORMAM

“Cada pessoa e cultura desenvolveu a sua própria definição do que é certo ou errado”. Essa expressão é inaceitável porque implica que um ato pode ser certo para alguém até mesmo se for cruel ou prejudicial. Diferentes correntes filosóficas têm mostrado teorias que revelam um novo olhar sobre o homem e as diferentes realidades existentes. Vimos muitas tentativas de um “resgate cultural”, que impõem uma renovação social por meio da transformação dos seres, por meio de transformações profundas na consciência individual e coletiva, num processo rumo a uma nova mentalidade.
Transformar-se, nem sempre é um processo fácil ou tranquilo nos acontecimentos de nossas vidas, porém o filósofo grego Sócrates já dizia que só é útil o conhecimento que gera transformação. Entende – se que tem que haver uma transformação em qualquer Ser, pois ninguém é dono da verdade, é sabe de todos os fatos, todos erram, pensando assim pode levar a uma nova formação humana associada à construção de sentido da vida – Quem sou? Por que estou aqui? De onde vim? Seguindo um pensamento escrito na Bíblia “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da vossa mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:2).” Podemos ver essa transformação por uma alegoria escrita por Platão, chamado O Mito da Caverna, que conta a história de um prisioneiro que nasceu acorrentado no fundo de uma caverna como muitos outros. Inconformado com sua condição, esse prisioneiro consegue se libertar, sair da caverna e contemplar o mundo exterior. Não satisfeito e sentindo compaixão em relação aos outros prisioneiros no interior da caverna, o prisioneiro decide voltar ao interior hostil da caverna para tentar resgatar outros prisioneiros. Entretanto, em seu regresso, os outros prisioneiros, desacreditaram-no, riram dele e, por fim, mataram-no. É por meio desse pensamento de Platão que percebe-se a atitude de transformação que faz o indivíduo perceber- se prisioneiro a um mundo de aparências e preso a seus preconceitos e opiniões, e essa inquietação é o que faz o indivíduo buscar o conhecimento verdadeiro, a saída da caverna, ao compreender a verdade iluminada pelo Sol, se tornar livre.

CONCLUSÕES FINAIS

Ao lançarmos um olhar ampliado sobre a forma como os grupos humanos estão preparando novas gerações, podemos afirmar que grande parte da sociedade é acomodada quanto ao saber, elas não vão atrás de um conhecimento (logos) de suas vidas. Preferindo-se ficar acomodadas com as verdades que o mundo impõe sobre elas.
Hoje temos acesso a muita informação disponível em praticamente todas as áreas do conhecimento, tampouco isso não é suficiente, pois são somente informações que não transformam a vida de uma pessoa.

REFERÊNCIAS

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FORTI, Felipe Soares. A Existência da verdade e a crítica ao relativismo. XV Jornada de Iniciação Cientifica e IX Mostra de iniciação Tecnológica, 2019 Disponível em: http://eventoscopq.mackenzie.br Data de acesso: 27 de junho 2021

JUNIOR, Jacir Silvio Sanson. A via extralógica da pela verdade nos diálogos platônicos. Disponível em: http://190.15.17.25/discusionesfilosoficas/downloads Data de acesso: 27 de junho 2021

CARRASCO, Carlos José Fávaro. O pensamento sacrático: a busca da verdade e sua influência na investigação policial. 2013. 77 f. Dissertação – Pontifíca, Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2013.

ROMANOS. Bíblia Sagrada Online, 7Graus, 2009.

BORGES, Renato Rodrigues. FILOSOFIA: O nascimento da Filosofia. Colégio Shallon. 2021. 32 slides.

BORGES, Renato Rodrigues. Filosofia Clássica. Colégio Shallon. 2021. 22 slides.