“Oppenheimer” é um filme que nos faz refletir sobre as implicações éticas e morais do avanço científico e tecnológico, especialmente no contexto do desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial.
É necessário olhar para as perspetivas filosóficas de Thomas Hobbes e Sun Tzu, enquanto se examina os acontecimentos do passado, como o filme “Oppenheimer”, o qual retrata a criação da primeira bomba atômica. Albert Einstein, personagem com múltiplas cenas no filme, destaca:
“Temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa humanidade. O mundo terá uma geração de idiotas.”
Albert Einstein
Thomas Hobbes, filósofo do século XVII, em sua obra “Leviatã”, retrata o estado de natureza como um cenário caótico, onde a vida do homem é solitária e insegura. Para garantir a paz e evitar a guerra de todos contra todos, os Estados modernos se organizam em torno do poder central, com o objetivo de assegurar a segurança dos indivíduos. A posse das armas nucleares cria um cenário de incerteza e vulnerabilidade, onde a ameaça de aniquilação mútua paira sobre as nações, e a busca pelo poder atômico pode conduzir a um estado de insegurança permanente.
Já Sun Tzu, em “A Arte da Guerra”, enfatiza a importância da estratégia e da astúcia no campo de batalha. O uso da força nuclear introduz um elemento de engano, uma vez que a posse ou a ameaça de utilização desse poderoso armamento pode ser uma ferramenta para persuadir ou coagir outros Estados. No entanto, a busca pela supremacia nuclear também pode desencadear uma corrida armamentista, alimentando ainda mais a instabilidade e a desconfiança entre as nações.
Neste contexto, o filme “Oppenheimer”, dirigido por Christopher Nolan, oferece uma visão histórica sobre o desenvolvimento da bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. A trajetória de J. Robert Oppenheimer, o cientista que liderou o Projeto Manhattan, demonstra como a ciência e a busca pelo conhecimento podem ser usadas tanto para o bem quanto para o mal.
A explosão da primeira bomba nuclear em Hiroshima e Nagasaki em 1945 causou destruição em massa e mudou para sempre a história da humanidade. Esse momento emblemático ilustra as consequências devastadoras do uso da força nuclear e nos lembra da responsabilidade que recai sobre a humanidade ao possuir tal poder.
Como bem afirmou Albert Einstein, um dos cientistas cujas descobertas foram fundamentais para o desenvolvimento da bomba atômica, é imprescindível que a tecnologia não ultrapasse a nossa humanidade. A sabedoria, a ética e a compreensão das implicações globais são fundamentais para evitar a catástrofe que uma guerra nuclear pode causar.
Vale tembém trazer a memória a a análise de Arendt sobre a “banalidade do mal”, pois, nos convida a pensar sobre como a inação, a falta de questionamento ético e o distanciamento das consequências de nossas ações podem levar a resultados devastadores.
O dilema nuclear brasileiro: O submarino Nuclear
O Brasil tem sido alvo de discussões intensas no cenário internacional após apresentar uma proposta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) das Nações Unidas, buscando realizar procedimentos especiais de inspeção para futuros reatores submarinos de propulsão nuclear armados convencionalmente (SCPN). A questão central gira em torno da manutenção de segredos militares sobre as capacidades do navio, que a Marinha brasileira não está disposta a abrir mão. Essa controvérsia levanta importantes questionamentos sobre a soberania nacional, o uso pacífico da tecnologia nuclear e a transparência nos projetos militares.
No enredo de “Openhainer”, assim como na proposta do Brasil à AIEA, a nação fictícia também se opõe a submeter seu reator a testes de instalações nucleares civis, alegando questões de segurança e soberania. Essa posição coloca Openhainer em um dilema ético e político, pois o país é forçado a balancear a busca pelo poderio militar com a necessidade de cooperação e transparência internacional.
De forma semelhante, o Brasil encontra-se diante de um desafio complexo: conciliar a proteção de segredos militares e a soberania nacional com a responsabilidade de assegurar que sua tecnologia nuclear não seja utilizada com fins bélicos, respeitando os acordos internacionais de controle nuclear. Essa postura coloca o país em uma posição delicada na arena internacional, exigindo uma reflexão profunda sobre os riscos e benefícios envolvidos na busca por autonomia nuclear.
Implicações Globais
Tanto no filme “Openhainer” como na realidade brasileira, a relutância em submeter o reator aos mesmos testes de instalações nucleares civis pode alimentar desconfiança entre as nações e levantar questionamentos sobre os verdadeiros objetivos dos projetos nucleares. A transparência é um elemento crucial para construir a confiança mútua entre as nações e evitar crises diplomáticas e potenciais conflitos.
Enquanto o Brasil argumenta que o SCPN possui um caráter estritamente defensivo, a comunidade internacional pode temer possíveis riscos à segurança regional e global. Nesse sentido, é essencial que o país promova um diálogo aberto com outros Estados, esclarecendo suas intenções e demonstrando o uso pacífico da tecnologia nuclear.
O filme “Oppenheimer” nos faz confrontar a complexidade moral da decisão de empregar a força nuclear, suas consequências devastadoras e como a humanidade precisa aprender com esses eventos traumáticos do passado. Portanto, a citação de Jesus é uma lembrança de que somos responsáveis pelas escolhas que fazemos e que devemos usar nossa sabedoria e discernimento para buscar caminhos de paz e justiça em meio aos desafios tecnológicos que enfrentamos.
“[…] a vida do homem pode ser: solitária, pobre, sórdida, bruta e curta.” – Thomas hobbes
“[…] toda guerra é baseada no engano.” – Sun Tzu
“[…] Deixo a paz a vocês; a minha paz dou a vocês” – Jesus Cristo
Referências:
BÍBLIA SAGRADA. Tradução de Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Resvista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), 2018.
ARENDT, Hannah. [1958]. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 10 ed., 2005
HOBBES, Thomas de Malmesbury, Leviatã. Os Pensadores. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997
OPPENHEIMER E A INVENÇÃO DA BOMBA ATÔMICA. Direção de Christopher Nolan.Estados Unidos. Universal Pictures – 2023.
SUN TZU. A Arte da Guerra.São Paulo, 2018