PSICOTERAPIAS E PSICANÁLISE: CONTRASTES E APROXIMAÇÕES CONCEITUAIS

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 Atualmente, quando se faz uma pesquisa pela palavra “psicanálise” no Google, há de se obter algo em torno de um milhão de referências, um dos fatores mais relevantes para tamanha relevância, está no rico histórico da psicanálise.

Mesmo ante de estudar as patogenias mentais, Freud já havia estudado a sexualidade humana quando ainda estava na universidade de medicina, claro, posteriormente ele se dedica ao estudo da histeria aliado à técnica da hipnose como forma de tratamento, contudo, Freud se coloca em uma condição de pioneirismo com a missão de compreender melhor a psique humana. Para isso, o pai da psicanálise propõe sua primeira tópica (inconsciente e consciente), a partir daí a psicanálise vem se desenvolvendo e conta hoje com sete escolas clássicas, dentre elas se destacam a de Freud, Lacan, Melanie Klein, Winnicott.

Jung já previa que os estudos das abordagens psicoterápicas haveriam de multiplicar:

Uma discussão incessante e ilimitada sobre a psicologia vem inundando o mundo nos últimos vinte anos, mas ainda não produziu uma melhora visível das atitudes e perspectivas psicológicas. Tanto leigos como cientistas “ficaram extasiados com o exuberante aparecimento de tantos paradigmas teóricos, e atordoados com o labirinto de propostas desequilibradas (2011, p. 28).

            Nota-se na fala de Jung, um certo tom de preocupação com as propostas psicanalistas, a mesma preocupação que já havia (1893) sido anunciada por William James: “Parece que hoje todo o mundo está publicando uma Psicologia”. Meados da década de 70, Freud e Jung (cartas de 1974) passa por uma ruptura no que se refere aos paradigmas psicanalíticos. Muitos encaram essa ruptura como sendo o ponto de partida para o surgimento da psicoterapia tendo Jung como patrono, todavia, cabe questionar a validade dessa tese.

             A princípio, Jung cunha a expressão “psicologia analítica”, que posteriormente (1954) é definida por “psicologia complexa”. Ele explica que a mudança não é meramente estética, pois, o termo “psicologia analítica” se refere a abordagem prática da análise psicológica. Por outro lado, a “psicologia complexa” era mais ampla(complexa), não se limitava as associações da clínica: “O tratamento da psicologia deveria, no geral, ser caracterizado pelo princípio da universalidade. Não deveria ser proposta nenhuma teoria ou questão especial; a psicologia deveria ser ensinada em seus aspectos biológicos, etnológicos, médicos, filosóficos, culturais-históricos e religiosos.” (2011, p. 57). Por esse motivo o nome de psicologia “das complexidades”. Até esse momento, haviam dois modelos de psicologias junguiana: a “analítica”, mais dada á clínica de consultório, e a “complexa”, de maior amplitude com a tarefa de desatar as correntes da alma humana de suas estacas de conhecimento compartimentados.

              Da perspectiva freudiana, no texto de 1926 intitulado “Podem os leigos exercer psicanálise?”, a psicanálise é delineada como um procedimento de investigação e cura dos processos mentais durante o período de tratamento que se valia da técnica de cura pela fala. É necessário ter em mente, que no início de seus estudos, tanto o termo “psicanálise”, quanto “psicoterapia” eram usados sem discriminação. Contudo, com a expansão dos estudos psicanalíticos, o próprio Freud (1918 em Budapeste) declara: “é necessário separar o ouro puro da psicanálise do cobre da sugestão direta”.

            No espirito das efervescências das psicologias, William James, Freud e Jung estavam consoantes com a necessidade de enumerar e definir de forma clara quilo que estavam propondo como abordagem psicanalítica, por essa razão a psicologia e psicanalise se dividem em escolas e métodos que definem a maneira como cada abordagem compreende a psique e as relações humanas.

            Já, no que se refere ao termo “psicoterapia”, há um consenso entre escolas psicanalíticas de que se trata de algo mais genérico, pois, se refere as inúmeras abordagens e métodos terapêuticos e analíticos.   Concomitantemente o verbete “psicoterapia”, no dicionário de psicanálise esclarece:

Método de tratamento psicológico das doenças psíquicas que utiliza como meio terapêutico a relação entre o médico e o paciente, sob a forma de uma relação ou de uma transferência. O hipnotismo, a sugestão, a catarse, a psicanálise e todos os métodos terapêuticos próprios da história da psiquiatria dinâmica estão incluídos na noção de psicoterapia. A palavra psicoterapia como tal generalizou-se no vocabulário clínico a partir de 1891, quando Hippolyte Bernheim publicou “Hipnotismo, sugestão e psicoterapia”. (ROUDINESCO E PLON, 1998, p. 624 – grifo meu)

            Em suma, o que se observa desde o surgimento dos estudos psicanalítico é a existência de uma nuvem de concepções e paradigmas daquilo que se compreende por psicoterapias e psicanálise. As escolas de psicanalíticas clássica, tais como: Feud, Lacan e Klein, buscam afirmar por meio do rigor metodológico e estudos empíricos a validade de suas abordagens. Por outro lado, a vasta gama de psicoterapias que proliferam sem qualquer tipo de rigor científico (ou muito pouco), tais como as Coachingterapias e a as psicoterapias curtas ganharam maior popularidade devido a promessas de resultados rápidos. Por conta desse fenômeno, as psicoterapias se tornaram mais populares, entretanto, a população de modo geral tende a falta de informação sobre a validade e indicação de cada abordagem psicoterápica.

 

Referências Bibliográficas

ROUDINESCO E PLON. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998

SHAMDASANI, Sonu. Jung e a Construção da Psicologia Moderna. Aparecida – SP: Editora Idéias & Letras, 2011.

ZIMERMAN, David E. Manual de técnica psicanalítica – Uma revisão. Porto Alegre: Artmed, 2008.