Eis uma controversa. Para alguns avaliar significa medir o conhecimento, para outros, a avaliação é uma forma de perceber o envolvimento do aluno com a disciplina, ou seja, cabe ao avaliador perceber por uma e outra ferramenta de avaliação
o desenvolvimento do alunado em relação ao que foi apresentado durante o período de ministração de um curso ou parte dele.
De maneira geral os professores não estão preocupados se a nota revela a aprendizagem ou não. Se a nota é sete, o estudante é aprovado e, se não, é reprovado. Nesse sentido, avaliar significa fazer prova e conseguir uma nota, penso que este tipo de prática desconsidera todo o processo que o aluno traz em sua realidade escolar. Para mim, a avaliação deve considerar a produção e o desenvolvimento do aluno no cotidiano escolar. Isso significa dizer que este deve produzir e se envolver com as propostas apresentadas pelo professor em sala.
A Filosofia deverá ser uma das disciplinas que contribuem para o desenvolvimento do espírito crítico dos alunos, uma vez que é essencialmente uma atividade crítica. Além disso, também se espera que ela ensine aos jovens a serem consequentes nas suas críticas. Nesse sentido aprender a ser crítico é aprender a apoiar as suas opiniões em bons e credíveis argumentos. Mas é também aprender a avaliar os argumentos alheios e rever as suas opiniões, quando esses argumentos forem melhores que os seus.
Exemplos de ferramentas didáticas de Filosofia:
Vamos ser pragmáticos, se estou trabalhando filosofia clássica: Epicurismo em uma sala de 40 alunos, posso perfeitamente questionar em que sentido a ataraxia (conceito filosófico ensinado por Epicuro) é uma realidade ou não em nossa sociedade. Peço os alunos para irem até a lousa escreverem suas opiniões e dar exemplos. Se estes alunos tiverem uma sala de informática, posso marcar uma atividade (sem que os alunos saibam) para uma construção coletiva tipo Wiki, Mapa Conceitual ou fórum Usando o Moodle ou Web Quest. Desse modo, tenho a participação e o envolvimento de cada aluno e posso afirmar com quase 100% de certeza quem tem se envolvido e produzido nas aulas de filosofia. Assim, se obtém uma parcela da avaliação durante as aulas de filosofia, dentre outras atividades que serão sugeridas a seguir.
Outro exemplo que gosto muito é solicitar que os alunos pesquisem um determinado tema na internet. Se estiver estudando com eles Maquiavel (virtù e Fortuna), apresento a teoria e na semana seguinte peço que tragam notícias de revistas e jornais que tenham relação com o que foi apresentado na aula. Certamente alguns alunos não vão trazer, irão inventar desculpas ou dizer que não tinham onde pesquisar. Aqui o aluno será avaliado pelo compromisso com a disciplina e pela compreensão do tema.
Uma reflexão individual por escrito (um ensaio ou artigo) é outra forma bem eficaz de avaliar. Para isso, planeja-se o tema, os autores a serem utilizados são determinados, estipula-se a quantidade mínima e máxima de linhas e se estabelece uma data para entrega. Nesse ponto, observe que a interdisciplinaridade e capacidade de argumentar e organizar o texto são pontos fortes, pois o aluno deve tratar de temas do cotidiano. Tenho vários exemplos de temas: amor, consumismo, política, sexualidade e felicidade são os mais populares e mais bem recebidos em minhas aulas.
Notem, o que estou propondo como avaliação é algo que chamou a atenção do professor Albino Dantas[1]:
“A inclusão de filosofia e sociologia de volta à grade curricular das instituições de ensino fundamental e médio tem um valor inestimável para formação de um cidadão completo. Entretanto, cabe aqui uma preocupação bastante pertinente: que tipo de avaliação será feita deste conhecimento? Se concordarmos que filosofia e filosofar caminham lado a lado, o processo de avaliação deve levar em consideração isto. Se não for desta forma, o que estará sendo avaliado? Estas perguntas inquietam bastante os professores de filosofia. E cabe, ainda, uma crítica que tem igual peso de advertência: há que se velar pela filosofia, para que não se torne mais uma obrigação do rol de tantas outras que já cobramos de nossos alunos. Porque, caso isto aconteça, estaremos sufocando-a com suas próprias mãos: não podemos obrigar o cidadão a ser livre. Ele simplesmente o é. O método de avaliação de filosofia, ao nosso ver, não deveria ser de forma alguma instantâneo. O aluno que se vir obrigado a escolher uma alternativa, em um elenco proposto e fechado em si, não estará exercendo seu potencial crítico na escolha. Estará aplicando fórmulas, como as vistas em matemática (sem desmerecê-las de forma alguma), o que é incompatível com a própria proposta do ensino de filosofia. Seria, assim, eficiente porém pouco eficaz. Eficiente porque cumpriria a meta de classificar os candidatos quanto ao seu nível de acúmulo de conhecimento; pouco eficaz porque não avaliaria as competências pertinentes à filosofia. Um sistema de avaliação bem mais coerente seria associar Filosofia à Redação, uma vez que é própria desta última a análise da argumentação. Desta forma, haveria uma maior liberdade para a exposição das ideias e uma construção mais fluente de críticas.” (Dantas, 2012)
Para não concluir, pois este assunto ainda rende muita discussão, pretendo apresentar mais algumas ferramentas para ajudar na avaliação cotidiana. Vamos à relação de algumas delas:
FICHA DE AUTORES contendo, nome pensador, data, resumo (20 linhas) acerca de algumas ideias principais do autor, referências bibliográficas e origem da escola filosófica.
ARTIGO OU ENSAIO: Já discutido acima.
MAPA MENTAL OU CONCEITUAL: O aluno fará um mapa conceitual do pensamento de um autor escolhido e pode cruzar este mapa conceitual com outros mapas.
DEBATES: É interessante para turmas que tenham um bom nível de maturidade sobre determinado tema.
INTERVENÇÕES DINÂMICAS: Meu preferido e uso muito no cotidiano. Faz-se um quadro para tópicos na lousa e solicita-se que durante a aula os alunos componham este quadro com dúvidas e exemplos.
SALA DE INFORMÁTICA: Exames com questões feitas no Moodle, Webquest e simulados podem ser utilizados para uma atividade em que todos os alunos devem realizar uma atividade proposta individualmente ou em duplas. Avalia o conhecimento objetivamente. Minha sugestão que esta atividade seja bem planejada quanto ao tempo disponível e seu peso na nota final do aluno.
Tenho que concordar com o especialista em avaliação Cipriano Luckesi:
A lei que introduziu o termo avaliação é a de 1996, ainda que estados e municípios passassem a usar o termo avaliação para denominar a prática do exame. Mudamos a terminologia e não a prática. O esforço é fazer os educadores transitarem do conceito e prática de exame para a avaliação. (Luckesi, 2012)
Fomos condicionados e adestrados e até condenados a entender avaliação enquanto prova com dia e hora marcada e com isso desconsideramos todo processo vivido pelo aluno em sala. Enfim, a LDB defende ainda, no seu artigo dois, que a educação deve promover um desenvolvimento democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e a troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgar com espírito crítico e criativo. O que se pretende é que o estudante seja cada vez mais capaz de defender as suas próprias ideias, o que envolve uma compreensão rigorosa e profunda dos problemas, assim como capacidade para articular uma “teoria original” e defendê-la com argumentos sólidos.