A Páscoa, a mais importante festa do calendário cristão, transcende a celebração da ressurreição de Jesus Cristo. Ela representa a convergência de antigas tradições pagãs e da fé cristã, entrelaçando simbolismos e crenças em uma jornada histórica das religiões antigas.
Raízes Ancestrais e Simbologia Pagã:
Antes do Cristianismo, a Páscoa já era celebrada na Europa como o festival de Ostara, em homenagem à deusa da primavera. O equinócio de primavera, momento em que dia e noite se equilibram, marcava o renascimento da natureza, a fertilidade e a esperança. O ovo, símbolo ancestral da vida e da criação, era pintado e oferecido aos deuses como forma de gratidão. O coelho, associado à fertilidade e à abundância, também figurava nesta celebração.
Com o passar dos séculos, a tradição de Ostara se mesclou com a bruxaria Wicca, uma religião neopagã que reverencia a natureza. A data se manteve próxima ao equinócio de primavera (entre 20 e 23 de março), reforçando a ligação com o despertar da natureza.
Na celebração de Ostara, encontramos dois símbolos poderosos: o ovo e a lebre. O ovo, símbolo universal da vida e da criação, era pintado e oferecido à deusa como forma de agradecimento. Já a lebre, associada à fertilidade e à abundância, representava a vitalidade da primavera.
O único relato sobre Ostara vem do monge inglês Beda, do ano 725 d.C. Ele menciona o mês lunar de Eosturmonath, dedicado à deusa e suas festividades. Essa referência nos conecta com a história e a ancestralidade da celebração.
O nome Pascoa em inglês é “Easter“, uma alusão direta ao nome da deusa Ostara ou Ostera, como era comummente chamada.
A Páscoa Cristã: Uma Nova Interpretação:
Com o advento do Cristianismo, a Páscoa ganhou um novo significado. A data foi fixada como o primeiro domingo após a primeira lua cheia que ocorre após o equinócio de primavera no hemisfério norte, coincidindo com a época da celebração de Ostara. A crucificação e ressurreição de Jesus Cristo foram sobrepostas à antiga tradição, reinterpretando os símbolos pagãos. As ervas amargas da tradição judaica deram lugar a galhos enfeitados, o cordeiro assado foi trocado por um coelho mágico que bota ovos, o Cristo foi substituido por chocolate.
No final, a data judaica cristã não passou de marketing religioso para continuar a mesma celebração da “deusa Ostara”, mantendo os ritos e o significado da festa pagã.
No origem judaica/cristã, a palavra “páscoa” deriva do hebraico “pessach”, que significa “passagem”. No contexto cristão, a Páscoa representa a passagem de Jesus da morte para a vida, simbolizando a redenção da humanidade. O sacrifício de Jesus na cruz é visto como a libertação do jugo do pecado e a promessa da vida eterna.
No Velho Testamento, o conceito de Páscoa está principalmente associado à celebração judaica conhecida como “Pessach” (ou “Pesach”), que é uma das festas mais importantes do calendário judaico. A Páscoa judaica comemora a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito, conforme descrito no Livro do Êxodo.
Os historiadores concordam em poucos pontos, mas é certo que a morte de Jesus aconteceu durante a celebração da Páscoa judaica, chamada de Pessach. Este evento crucial teve lugar na província romana da Judeia, sob a autoridade do prefeito Pôncio Pilatos. No entanto, muitos detalhes precisos nos são privados devido ao véu do tempo, levando-nos a fazer suposições com base em fragmentos de evidências históricas.
Frequentemente somos levados a fazer conjecturas ao tentar fixar uma data exata para este acontecimento crucial. Acredita-se que esse evento tenha acontecido por volta do ano 28 depois de Cristo, embora essa data seja uma inferência baseada em dados espalhados.
Muitos estudiosos consideram o dia 14 de Nissan, conforme o calendário judaico, ao especular sobre a data exata da crucificação. Isso nos leva a considerar que o evento pode ter acontecido em uma sexta-feira, no dia 3 de abril.
A história da Páscoa no Velho Testamento está registrada no Livro do Êxodo, onde relata como Deus enviou Moisés para libertar os israelitas do domínio do faraó egípcio. Após uma série de pragas enviadas por Deus ao Egito, o faraó finalmente concordou em liberar o povo hebreu. O evento central desta narrativa é a décima praga, em que Deus anunciou que mataria todos os primogênitos do Egito como um sinal de punição pelo endurecimento do coração do faraó e para forçar sua libertação do povo de Israel.
Antes que essa praga ocorresse, Deus instruiu os israelitas a sacrificarem um cordeiro sem defeito e a passarem seu sangue nas vergas e nas ombreiras das portas de suas casas. Isso serviria como um sinal para que o anjo da morte passasse por essas casas sem prejudicar os primogênitos israelitas. Os israelitas também foram instruídos a comer a carne do cordeiro assado com ervas amargas e pães sem fermento, simbolizando sua pressa em partir do Egito.
Na noite em que ocorreu a décima praga, o anjo da morte passou pelo Egito, matando todos os primogênitos, exceto aqueles cujas casas estavam marcadas com o sangue do cordeiro. O faraó, finalmente, permitiu que os israelitas partissem, e assim, eles foram libertados da escravidão. Essa celebração da Páscoa, conhecida como Pessach, tornou-se uma festa anual no calendário judaico, comemorando a libertação e a passagem da escravidão para a liberdade
No Novo Testamento, diversos textos narram a história da Páscoa, como Mateus 27:50-53, Marcos 16:1-8 e Lucas 24:1-12. A ressurreição de Jesus é um evento central da fé cristã, evidenciando o poder de Deus sobre a morte e a promessa de salvação.
Uma celebração com significado profundo:
Ao celebrarmos a Páscoa, é fundamental recordar seu significado central: a ressurreição de Jesus Cristo e sua vitória sobre a morte. Essa verdade transcende costumes e tradições, convidando-nos a uma reflexão profunda sobre o amor de Deus e o sacrifício de Jesus por nossa redenção.
A Páscoa não se resume a ovos de chocolate, coelhinhos ou feriados prolongados. É um momento de devoção, arrependimento e renovação espiritual. É um convite para fortalecer nossa fé, examinar nossas ações e buscar uma vida transformada pelos ensinamentos de Cristo.
Ao celebrarmos a Páscoa, reafirmamos nosso compromisso com os valores de amor, compaixão, perdão e justiça. Que a mensagem de Cristo inspire-nos a agir com misericórdia, a reconhecer a nossa completa dependência de Deus.
A Páscoa também nos convida a refletir sobre a vida e a morte. A ressurreição de Jesus nos garante a esperança de vida eterna e nos fortalece diante das dificuldades. Que essa fé nos motive a viver cada dia com alegria, gratidão e esperança, mesmo em meio às provações.
A Páscoa é uma oportunidade para celebrarmos a vitória da vida sobre a morte, a luz sobre as trevas e o amor sobre o ódio. Que essa data nos inspire a seguir os passos de Cristo, a amar ao próximo e a construir um real relacionamento com Deus.