Este artigo consiste em uma análise bibliográfica a respeito da construção dos hábitos na Educação escolar como alternativa para o desenvolvimento do aprendizado em aula. Para tanto, o referencial teórico utilizado abrange os diferentes campos de cunho filosófico e pedagógico que envolvem a base de pensamento
pedagógico de Aristóteles. Para o filósofo, a Educação e a virtude são similares e contribuem para a construção da excelência moral para consolidar o aprendizado do homem em sua integridade, preparando-o para os inúmeros desafios do mundo contemporâneo.
Unitermos: Hábitos. Aprendizado. Educação. Virtude.
Introdução
Parte-se da seguinte constatação: Há duas espécies de virtude: a intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida em resultado do hábito (Aristóteles, 2005).
Assim, há mais dois mil anos, Aristóteles já compreendia o ensino educacional como uma virtude democrática a ser construída com base na disciplina e no hábito. A Educação do homem, em sua integridade, deveria abrangir os diversos campos do saber, com um enfoque sobre o desenvolvimento moral e cívico, além do aprimoramento dos valores internos.
O hábito da virtude moral dignifica o ser humano, porque os bons hábitos são fundamentais para realizarmos as atividades cotidianas com excelência. O professor, responsável pela democratização do conhecimento, depara-se diariamente com situações embaçadoras, como das crianças que não utilizam de boa educação e equilíbrio nas atitudes para com os próprios professores e colegas.
“A educação, para Aristóteles, é um caminho para a vida pública”. Cabe à educação a formação do caráter do aluno. Perseguir a virtude significaria, em todas as atitudes, buscar o “justo meio”. A prudência e a sensatez se encontrariam no meio-termo, ou medida justa – “o que não é demais nem muito pouco”, nas palavras do filósofo.
O artigo apresenta como objetivo geral fazer uma análise reflexiva a respeito da educação e da influência dos hábitos sobre o aprendizado moral e integral do homem. Partindo-se da premissa que o referencial filosófico e pedagógico permitirá identificar o papel social e cultural do professor ao padrão de determinados comportamentos que refletem os hábitos dos alunos na Escola.
Diante de tais constatações, busca-se compreender: Como os hábitos – sob uma perspectiva aristotélica – influenciam a construção do aprendizado na Educação Escolar?
O aprendizado e a construção dos hábitos
Os hábitos compõem o caráter do ser humano. Eles representam padrões coerentes, e muitas vezes inconscientes que servem para exprimir o caráter no dia-a-dia, sendo responsáveis pela eficácia ou ineficácia de nossas ações. O caráter no ser humano traduz o grau de aprendizado e educação adquiridos ao longo da existência. Sendo assim, a virtude e a ação são paralelas, e uma depende da outra para consolidar a educação integral do homem.
Para Aristóteles a educação parte da imitação e visa levar o educando a adquirir hábitos que formarão nele uma segunda natureza. Nesse processo o educador deve expor o assunto, fazer com que o educando retenha aquilo que foi exposto, e, enfim levá-lo a relacionar os diversos conhecimentos adquiridos à custa de exercícios. Trata-se de uma educação que leva em consideração todas as faculdades que integram a natureza humana, para que o educando alcance a finalidade específica de sua existência, a felicidade. Segundo Aristóteles a educação deve ser pública e comum, porque só o estado pode garantir a formação adequada.
Para Kofman (2004), o aprendizado se resume a adquirir o conhecimento e extrair deste uma informação correta, ao mesmo tempo em que aplicá-lo de modo criativo e construtivo potencializa uma realidade desejável para todos. A informação que chega através dos sentidos é assimilada e armazenada. No entanto, para completar o processo de aprendizado, é necessário passar da informação para a ação consciente e concreta. Aristóteles (2005) discute o aprendizado sob a ação e a escolha que visam a um bem qualquer, ou seja, como um fim em sua investigação e natureza. A natureza do aprendizado é a educação integral do homem, bem como o objetivo supremo de sua existência (Rohden, 2005).
O aprendizado do ser integral supera a barreira da educação teórica que permeia as escolas tradicionais contemporâneas. É preciso desenvolver a consciência humana, cultivando as potencialidades racionais por meio da reflexão, do aprendizado e dos bons exemplos.
Platão (2001) percebe a educação como uma arte capaz de suportar a contemplação do ser e da parte mais brilhante do ser. Sendo assim, a natureza da educação permite ao homem, através dos bons hábitos, obter uma concepção política correta por meio do auto-conhecimento. Por exemplo: o que uma pessoa julga estar errado e o é, tomará para ela tal decisão e através de seu exemplo, influenciará outras pessoas.
A busca racional, sistemática e especializada da ciência por parte de pessoal treinado e especializado existiu somente no Ocidente, em um sentido que se aproxima de seu papel dominante em nossa cultura atual (Weber,2005). O comportamento se reflete nos hábitos, mas nem sempre há a disposição para realizá-los, de modo que o educador deve sempre sugerir alternativas para a construção da educação nas escolas. O aprimoramento intelectual é evidente na contemporaneidade, mais que o moral e civilizado.
De acordo com Emerson (1994), o aprendizado é o crescimento espontâneo em todas as suas expansões, e o que faz do homem integral um ser evoluído é o pensar da mente, que interpreta a realidade de acordo com o que aprende ao longo da vida.
O desenvolvimento da educação integral como virtude permite ao homem superar as expectativas sociais, bem como quebrar as regras teóricas e superficiais da sociedade alienada.
Não é, portanto, nem por natureza nem contrariamente à natureza que as virtudes se geram em nós; antes devemos dizer que a natureza nos dá a capacidade de recebê-las, e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito (Aristóteles, 2005).
O bem é a finalidade do hábito. Todo hábito visa a um bem qualquer. Em todas as ações cotidianas, há implicações, e de acordo com o grau de instrução de cada pessoa, faz-se ou não o uso de bons hábitos. A excelência moral e intelectual pode ser adquirida por meio da educação em uma propensão muito maior pelo exemplo oferecido pela sociedade, pelos amigos e familiares.
Para nos modificarmos, temos de nos conhecer. Temos que nos conscientizar de como percebemos o mundo, como sentimos, como pensamos, como nos expressamos e como atuamos (Gómez, 2005). O educador é, antes de tudo, um mediador dos diferentes tipos de conflitos e situações negativas que se evidenciam na escola. Ele deve ter uma consciência clara do mundo em geral e da realidade na qual ele e sua organização se movem. Uma consciência múltipla, porque múltiplos são os desafios que requerem sua atenção.
Como Chalita (2003) discute, a ética, sob uma perspectiva aristotélica, compreende a aquisição de bons hábitos, por meio do exemplo de outras pessoas na sociedade e na família, assim como da educação de modo geral. Se o sistema educacional de determinada instituição privilegia apenas a educação teórica, não ocorre o aprimoramento da virtude moral, bem como o desenvolvimento das virtudes internas. A Escola, como base do progresso humano, deve trabalhar a excelência intelectual e moral para uma melhor preparação do estudante para os desafios da sociedade contemporânea.
Conclusão
É parte evidente deste trabalho que para Aristóteles o potencial humano se desenvolve a partir do aprimoramento dos valores internos. Por ter potencialidades múltiplas, o ser humano só será feliz e dará sua melhor contribuição ao mundo se desfrutar das condições necessárias para desenvolver o talento. A organização social e política, em geral, e a educação, em particular, têm a responsabilidade de fornecer essas condições.
A virtude não é um conhecimento abstrato a respeito do que é ser virtuoso, como afirmou Platão, mas a prática da virtude em todos os hábitos que envolvem as ações humanas. Portanto, o educador, como um divulgador do conhecimento, deve desenvolver em seus alunos o aprendizado através de bons hábitos, em paralelo com a teoria, preparando-os para os desafios do mundo contemporâneo, ao mesmo tempo em que desenvolve a excelência moral e educacional.
Bibliografia
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2005.
CHALITA, Gabriel. Os dez mandamentos da ética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
COVEY, Stephen R. Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes. 26 ed. Rio de Janeiro: Best Seller, 2004.
GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
GÓMEZ, Emiliano. Liderança ética: um desafio do nosso tempo. São Paulo: Planeta do Brasil, 2005.
KOFMAN, Fredy. Metamanagement: o sucesso além do sucesso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
MORGAN, Gareth. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996.
PLATÃO. A República. São Paulo: Martin Claret, 2001.
ROHDEN, Huberto. Educação do Homem Integral. São Paulo: Martin Claret, 2005.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret, 2005.
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Guilherme Valentim Mendes
Graduado em Educação Física pela Universidade Positivo
Pós-graduado em Psicomotricidade pelo Centro Universitário FAE
Fonte: EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 16, Nº 155, Abril de 2011. http://www.efdeportes.com/