Caracteísticas da Sombra e Persona para Jung
No Arquétipo da Sombra, o que me chamou mais a atenção, foi o estilo de pensamento dialético. A partir dessa matriz aquetípica de pensamento várias psopostas terapeuticas se ergueram. O confronto do ser humanos consigo mesmo passa a ser delineado a partir na abordagem destes conceitos: Sombra e Persona. A Persona é como uma face, um tipo de máscara, uma personagem que apresentamos aos outros. Ora a de um bom profissional, boa mãe, bom cidadão, é uma personalidade exterior, superficial e manifesta, oposta a Sombra.
O que mais encanta nos pensamentos e fenômenos opostos, não é a oposição em si, mas a complementação entre estes, onde a unidade se faz no paradoxo das coisas.
Pois bem, tentarei explanar sobre as características do arquétipo ou campo experiencial da sombra, que segue uma dinâmica oposta ao arquétipo da persona (explicado logo abaixo) , porém complementares.
Diferentemente da persona, a sombra é o nosso aspecto mais oculto e obscuro, são todas um lado negativo de nosso eu os quais de uma forma ou de outra reprimimos. Apesar do nome talves causar uma certa desconfiança ao leigo, devo clarificar que a sombra se refere ao nosso polo negativo, não necessariamente algo traumático.
Achei brilhante a explicação que nos dá Stein (2006, p. 97) quando diz que: “A Sombra é a imagem de nós próprios que desliza em nossa esteira quando caminhamos em direção a luz“. Isso afirma o pressuposto paradoxal de que só caminhamos em direção a uma luz a partir da perspectiva de seu oposto, a sombra. Logo, é necessário tal experiencia, já que esta tem muitas vezes a função de colocar-nos em “nosso lugar”, e mostrar que não somos deuses, e que temos nosso aspecto negativo, caso contrário pode ocorrer uma inflação egoica ou até mesmo uma psicose.
Jung entendia a psique simbolicamente como uma esfera, onde nossas fronteiras conscientes são delimitadas, mas nosso mundo interior é como um labirinto que possui muitas armadilhas, mas também onde se encontram os maiores tesouros. Logo, se a Persona é a casca, a máscara, a Sombra é um complexo opositor que se encontra mais a fundo, mas ainda sim na periferia.
Stein ainda nos mostra que a sombra funciona como o sistema de espionagem, pois existe mas ninguém vê já nosso ego na maior parte do tempo a ignora.
Na sombra reside todos aqueles conteúdos que nós não queremos ser, nem mesmo deixar que os outros conheçam já que buscamos aparentar aquela pessoa ideal nas mais diverssas situações sociais (aspécto da Persona – máscara).
Porém quando uma pessoa se prende a esse ideal de tal forma que passa a atrapalhar sua vida, isso pode significar uma defesa, ou resistência a um possível desenvolvimento ou reconhecimento de algo que a pessoa não ‘quer’ assumir. Por isso, confrontar a sombra na sesão de terapia é fundamental, já que esse processo o leva a um conhecimento mais profundo e autêntico de si mesmo.
Jung via que o confronto com o inconsciente diz respeito além de tudo, ha um impasse moral, onde a pessoa deve colocar em xeque todas as esferas de sua vida. Em outras palavras, o problema da moral se apresenta psicologicamente quando uma pessoa encara a questão de saber no que ela pode se tornar em comparação com que ela irá se tornar se determinadas atitudes forem mantidas, decisões tomadas ou ações estimuladas sem reflexão. Isso significa também entrar em contato com nossa dimensão mais obscura, encarando a verdadeira face de quem somos.
Um filme que ilustra bem o poder que a sombra exerce sobre nossa vida, é o Amigo Oculto onde é descrito um caso de dissociação em que o sujeito pensa ser e agir de uma forma, mas em seus lapsos é e age sob o domínio da sombra. Tal evento segundo a ótica junguiana se dá a partir da enantiodromia (conceito usado por Heráclito que diz respeito a compensação energética onde os lados trocam de lugar temporariamente até que ocorra um reequilíbrio), onde o arquétipo quando muito recalcado, assume o controle da consciência dominando-a. Isso significa, que não existe como eliminar nossa face oculta sem assim estarmos indiretamente tentando eliminar nossos ideais mais elevados. Por isso Jung expõe que sempre devemos manter um diálogo com nosso aspecto sombrio, não o deixando nos possuir, mas dando sempre um caminho aceitável (do ponto de vista ético) a essa nossa dimensão, sendo o Self, muitas vezes o arquétipo de tal integração.
Costumo dizer ao meus pacientes que “Ou você abraça sua Sombra, ou ela lhe abraça“. Com isso, quero que o meu analisando entenda que é preciso encarar a Sonbra, confronta-la, analisa-la e tomar uma decisão sobre os aspéctos que ela apresenta. Assim, o confronto com nossa sombra diz respeito a estruturação de nosso caráter, de nossa personalidade, possibilitando assim que ocorra a individuação, o tornar-se aquilo que se é.
“Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.” Carl G. JungREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
STEIN, M. Jung – o mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006
JUNG, Carl Gustav. (1987). A Prática da Psicoterapia. Petrópolis: Vozes 2005.