Barrabás e Jesus segurando uma balança

Barrabás: Redes sociais, Natureza humana e Religião

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Quem seria o equivalente moderno a Barrabás? Hoje, possivelmente, encontraremos alguém como um influencer, aclamado por milhões de seguidores por sua postura radicalmente violenta e explícita. Imagine um líder de massas contemporâneo, capaz de incitar multidões com suas mensagens e tuítes. Contudo, é necessário repensar a tradicional visão de Barrabás como um simples criminoso de rua (Mateus:27:16). As diversas perspectivas dos evangelistas nos apresentam um quadro mais complexo, sugerindo que Barrabás era um zelote, um quase-terrorista, preso por rebelião.

O Embate Midiático:

Em um cenário onde Barrabás e Jesus se confrontam, vemos dois líderes carismáticos, representando polos opostos. Barrabás, o profeta guerrilheiro, um tipo de messias que incita revoltas e confrontos, enquanto Jesus, dotado de carisma ímpar, pregava a não-violência e a oferta da outra face. Esse embate, mais do que uma escolha entre dois condenados, representava uma escolha entre duas linguagens, duas visões de mundo.

A Escolha da Violência:

A narrativa da subida ao Gólgota (Marcos 15,7) oferece uma profunda análise da violência humana, abrangendo todos os aspectos da pulsão destrutiva. A multidão que grita pelo nome de Barrabás encarna a poderosa imagem da violência sedutora, capaz de exaltar corpos e inebriar ânimos. Este fenômeno persiste ao longo da história, desde execuções sumárias nos guetos até os horrores mais recentes em Srebrenica, Bagdá, Damasco e Bucha.

Quando Freud postula a natureza psíquica do homem, ele aponta a pulsão destrutiva é uma força fundamental que influencia o comportamento humano. Ela inclui tendências para a agressão, destruição e busca de violência, muitas vezes manifestando-se de maneiras variadas em diferentes aspectos da vida mental e emocional.

A História de Barrabás:

Barrabás, cujo nome em aramaico significa “filho do pai”, nasceu em Jopa, ao sul da Judéia, e tinha a profissão de remador de botes. Ele foi contemporâneo de Jesus Cristo e integrante de um partido judeu chamado Zelote, que lutava contra a dominação romana. Preso após um ataque a soldados romanos em Cafarnaum, onde possivelmente um soldado foi morto, Barrabás é mencionado no Novo Testamento durante o julgamento de Jesus por Pôncio Pilatos.

O Confronto Decisivo:

Segundo o texto bíblico, Pilatos, diante da pressão do povo que clamava pela crucificação de Jesus, tentou, em vão, apelar para a comoção ao exibir Jesus flagelado. Sem sucesso, ele recorreu a uma (suposta) tradição judaica, oferecendo ao povo a escolha entre a libertação de Jesus e Barrabás, um condenado à morte, tido como ladrão e assassino. O povo, surpreendentemente, manifestou-se pela libertação de Barrabás.

Além disso, é intrigante considerar como os ensinamentos de Jesus, baseados na não-violência e compaixão, continuam a desafiar as estruturas contemporâneas. Enquanto a humanidade enfrenta dilemas sociais e políticos, a escolha entre seguir o caminho de Jesus ou sucumbir à sedução de Barrabás permanece relevante.

Hobbes e a Natureza Humana nas escolhas


O embate entre Jesus e Barrabás reflete não apenas escolhas individuais, mas também a natureza humana, como proposto por Thomas Hobbes. Hobbes argumenta que, na ausência de uma autoridade central, a humanidade tenderia ao caos, guiada por impulsos egoístas.
A aclamação por Barrabás pode ser vista como a busca pela segurança e poder, representando a visão de Hobbes sobre a necessidade de controle social. Os judeus aguardavam um messias que deveria adentrar as portas do templo, tomar o poder de Roma e estabelecer um reinado esplendoroso.
A sede de poder, a busca por dominação, as riquezas como forma de ostentação de um reino vitorioso. Estas características fazem parte daqui que Hobbes chama de “homo homini lupus”.

A Escolha Religiosa de Kierkegaard:

Além disso, a tese de Soren Kierkegaard sobre a escolha religiosa oferece uma perspectiva interessante. Kierkegaard propunha que a escolha religiosa, mais prudente do que as escolhas estéticas e éticas, pos estas moldam a natureza humana.
No contexto da narrativa bíblica, a escolha entre Jesus e Barrabás pode ser vista como uma reflexão desta tese, onde a multidão opta por uma solução estética imediata (Barrabás) em detrimento da mensagem mais profunda e desafiadora de Jesus.
Kierkegaard destaca a natureza existencial da fé, enfatizando a importância da escolha individual, do comprometimento subjetivo e da vivência pessoal na relação com o transcendental.
A religião, para Kierkegaard, não é apenas uma questão de aderir a dogmas ou práticas externas, mas uma jornada interna e pessoal em direção à autenticidade e à entrega à Deus, é buscar e viver o Reino de Deus.
Jesus ensina que o Reino de Deus não se manifesta através de uma aparência externa, afirmando que “o Reino de Deus está entre vós” (Lucas 17:20,21). Nesse contexto, a responsabilidade do crente é evidenciar, por meio de sua vida e testemunho, a presença visível do Reino de Deus. .

Barrabás de todos os dias:

Todos os dias decidimos entre Barrabás e Jesus, a todo momento decidimos entre o estético ( prazeres, poder, riquezas) e o Religioso, ou seja a relação com Deus por meio daquilo que Jesus ensinou com seus exemplos e discursos.
O egoísmo e a vontade de dominar continua a moldar a natureza Humana (Thomas Hobbes), buscamos criar o “Reino de Deus” na terra. continuamos a bradar “Soltem Barrabás!”.
A história se repete, e a escolha pela violência ainda encontra eco nas tragédias contemporâneas.
A mensagem subjacente é clara: a humanidade, muitas vezes, opta por Barrabás em vez de Jesus. O desafio está em refletir sobre essa escolha, buscar uma transformação que afaste a sedução da violência em prol de um caminho mais pacífico e compassivo, inspirado nos princípios de amor e perdão de Jesus Cristo.
Enquanto o destino de Barrabás permanece incerto nos registros históricos, é possível imaginar que ele continuou a pregar a violência como meio de salvação, envolvido em atentados e massacres, ou talvez movido pelo olhar de Jesus tenha percebido que um inocente estava para ser crucificado em seu lugar.