BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A ENTREVISTA PRELIMINAR NA PSICANÁLISE

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No que se refere ao processo psicanalítico, a fala é compreendida como a via pela qual se chega ao inconsciente. Desta forma, não é diferente quando Freud destaca o tratamento de ensaio, processo que posteriormente Lacan define como entrevista preliminar. Outro fato importante dentro do ato psicanalítico é que o mesmo se encontra na recusa por parte do psicanalista ou mesmo na aceitação de uma pessoa para o processo de tratamento psicanalítico.

No texto publicado por Freud (Internationale Zeitschrift furPsychoanalyses, 1913) em sua primeira parte, o médico coloca algumas questões primordiais para o início do tratamento: o uso do divã, a remuneração e o uso do tempo durante as sessões, assim estabelecendo o“setting analítico”. Estes textos divididos em duas publicações, uma em janeiro e a outra em março do mesmo ano, vem apresentar as primeiras percepções de Freud acerca da necessidade de estabelecer alguns instrumentos e critérios para o processo psicanalítico a partir da entrevista preliminar. Vale ressaltar que a nomenclatura proposta por Freud é “ensaio”, só depois Lacan define como “entrevista preliminar”.
A funcionalidade da Entrevista preliminar
Tal como já foi descrito, o analista precisa aceitar o aquele que se propõe a analise, daí a necessidade de estabelecer critérios a partir da entrevista. Sabe-se que o objetivo central reside em estabelecer uma dinâmica de transferência, algo que Freud chama de tratamento do ensaio. Nota-se nesse ponto a função diagnostica e sintomal na condução da entrevista.Na mesma direção, o pai da psicanálise entende que durante a entrevista (ensaio) o analista precisa estabelecer na função transferência uma ligação com o analisando a fim de determinar o diagnóstico diferencial entre psicose e neurose. Cabe destacar que esse diagnostico está ainda embrionário, ou seja, é um ensaio para a entrada do tratamento psicanalítico propriamente dito, contudo tal como ressalta Lacan “não existe análise sem entrevista preliminar”.A estrutura da entrevista preliminar

A princípio o analista deve escolher dois momentos: o espaço dedicado a compreensão e o segundo momento no qual se dá o encerramento da entrevista. Uma vez que o ensaio está em processo cabe ao analista observar o interesse do candidato a analise, em virtude de que para a analise tenha sucesso é preciso que a escolha seja estabelecida bilateralmente, ou seja, o candidato deve escolher ser analisado e o analista aceita-lo para a analise.Saliente-se que a estrutura da entrevista pode ser descrita em três funções conceituais (sintomal, diagnóstica e transferencial), ainda que estas funções não obedeçam obrigatoriamente uma ordem obrigatoriamente definida.A Função Sintomal, nessa etapa da entrevista cabe salientar que o analisando passa a particularizar sua demanda representando-os em seus sintomas, daí a conotação da Função Sintomal (vem de sentir-se mal).Ademais, esse processo precisa ser tomado com cautela e analisado pelo profissional de psicanálise. Regularmente o sujeito vem ao analista afim de encontrar as respostas para seus dilemas,  bem como o desvelaras verdades de seus sintomas.
A função Diagnóstica
Em primeira instância cabe destacar que a Função Diagnóstica se configura a partir do processo de transferência, no qual uma queixa tende a ser traduzida em uma demanda.  Deste modo, a FunçãoDiagnóstica é norteadora da análise, no sentido de que o analisando vem sendo diagnosticado à medida que o analista aplica estratégias afim de definir o quadro.De maneira bem correlata e intrínseca, Antônio Quinet destaca queNas entrevistas preliminares, é importante, então, no que diz respeito à direção da análise, ultrapassar o plano das estruturas clínicas(psicose, neurose, perversão) para se chegar ao plano dos tipos clínicos (histeria — obsessão), ainda que “não sem hesitação”, para que o analista possa estabelecer a estratégia da direção da análise sem a qual ela fica desgovernada. A base da estratégia do analista na direção da análise se refere à transferência, à qual o diagnóstico deve estar correlacionado. (2009, p. 23)
Assim, a analisabilidade é elemento basilar para que o processo analítico se estabeleça, por conseguinte, estabelecer o sintoma analítico a partir das queixas do sujeito. Um fato importante é a possibilidade do processo analítico desencadear a psicose, nesse caso,faz se necessário ao analista ter prudência, a fim de identificar os traços da psicose logo no decorrer da entrevista preliminar, haja visto que a abordagem para cada um dos casos é diferente.No caso da neurose, aplica-se a norma fálica da castração em Édipo,abordagem essa que não deve ser direcionada para o indivíduo com estrutura psicótica. Lacan (1956) ressalta as limitações e dificuldades do analista lidar com a estrutura psicótica: “acontece de recebermos pré-psicóticos em analise e sabemos no que isso dá – isso dá em psicóticos” (p. 285). Por fim, é importante deixar claro  que a função diagnostica é também uma espaço de tomada de decisão a favor de uma abordagem que deve ser adequada a demanda diagnosticada.Considerações sobre a relevância da Entrevista Preliminar Em suma, fica claro que o ingresso na análise é correlato ao do sucesso do transferência, esta que por sua vez, oferece acesso ao inconsciente o qual precisa ser percebido pelo analista a fim de estabelecer o diagnóstico.Outro ponto importante são as queixas apresentadas pelo sujeito, elas precisam ser convertidas em demandas de maneira que o analista possa decidir se aceita ou não o candidato à analise.Finalmente, uma vez que a entrada na psicanálise é confirmada, ou seja, tanto o analista quanto o analisado se sentem prontos para continuar, é necessário desatar os sintomas do analisando, faze-lo sentir-se decifrado, fazendo com que o sintoma (queixa) seja convertida em “sintoma analítico”.  Desta forma, a continuidade dasEntrevista preliminar é a própria análise.
 Não basta a demanda de se desvencilhar de um sintoma; é preciso que este apareça ao sujeito como um ciframento — portanto, algo a ser decifrado — na dinâmica da transferência, pelo intermédio do sujeito suposto saber.A demanda de análise é correlata à elaboração do sintoma enquanto“sintoma analítico”. O que está em questão nessas entrevistas preliminares não é se o sujeito é analisável, se tem um eu forte ou fraco para suportar as agruras do processo analítico. A analisabilidade é função do sintoma e não do sujeito. A analisabilidade do sintoma não é um atributo ou qualificativo deste, como algo que lhe seria próprio:ela deve ser buscada para que a análise se inicie, transformando o sintoma do qual o sujeito se queixa em sintoma analítico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACAN, J., “Ouverture de la Section Clinique”, Ornicar?, no 9, Seuil,1977, p. 12LACAN, J. O Seminário, Livro 3, e As psicoses (1955-1956). Rio deJaneiro: Jorge Zahar, 1988.

QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge ZaharEditora, 2009.