Capítulo 1 – Introdução a uma filosofia da religião
A filosofia da religião tematiza a abertura a abertura do homem para o mistério que envolve de maneira positiva, aceitando-o. Tematiza, pois, a relação do homem com o santo ou numinoso no horizonte da
autocompreensão humano (p.5). A religião realiza-se na existência humana. O Apelo de Deus como a resposta do homem verificam-se na existência. Assim sua existência religiosa se constitui a partir do divino. Por isso, na filosofia da religião, não se fala só do homem, mas também daquilo que é diferente dele, que é o transcendente (p.6). No cristianismo, por exemplo, é a revelação e a penetração do incondicionado no mundo condicionado (p.7). Segundo Hegel, a religião e a filosofia têm em comum a busca da verdade (p.11).
Capítulo 2 – Descartes e Pascal: Racionalidade moderna e a fé
“a história é o combate entre a fé e a incredulidade”
W. Goethe
Sabemos que a (…) a razão nunca começa do ponto zero. A própria pergunta pela razão e pela liberdade é, historicamente, condicionada. Podemos perguntar: é realmente racional a confiança ilimitada na razão?(p.21)
Partindo da desconfiança universal, Descartes adota o procedimento conhecido por dúvida metódica, ou seja, de não aceitar nada que não ofereça garantia absoluta de verdade (p.25). “Pode-se demonstrar que há um Deus, apenas porque a necessidade de ser ou existir compreendida em a noção que temos dele”(Princípios nº14). E ainda: “Que não sendo nós a causa é Deus, e que, por consequência, há um Deus” (Princípios nº20). O Caminho cartesiano vai do cogito a Deus, a verdade objetiva. (p.28,29). Caberia indagar se o homem o homem pode ser reduzido à razão? (p.33)
Pascal relativiza a certeza puramente racional e matemática: “conhecemos a verdade, não só pela razão, mas também pelo coração” (n.282)(p.35). Pascal não isola o homem do mundo, como fizera Descartes. Pergunta: o que o homem é perante o infinito?
“Nada em relação ao infinito: tudo em relação ao nada; um ponto intermediário entre o tudo e o nada. Infinitamente incapaz de compreender os extremos, tanto o fim das coisas como seu princípio permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é-lhe igualmente impossível o nada de onde saiu o infinito que o envolve”(72)(p.37)
A razão não pode decidir se existe Deus ou não, pois entre nós e Deus há distância infinita, por isto apostamos cara ou coroa a favor da existência de Deus. Se ganhamos tudo (p.33). Pascal afirma: “Se somente se devesse fazer alguma coisa com certeza, nada se deveria fazer pela religião, pois ela não oferece certeza” (234) (p.41).
Para Pascal como para Descartes, o pensar é importante. Mas para Pascal, o espírito humano é muito mais que pura razão. (p.42)
Capítulo 3 – Kant e Hegel: A Racionalidade Moderna e a religião
O ponto de partida do conhecimento humano, segundo Kant, é a razão que imprime suas forças puras (categorias) nos objetos para assim constituí-los. Segundo Kant o conhecimento é constituído por juízos. Só podemos conhecer os fenômenos (p.42). Segundo a metafísica tradicional, a razão busca três conhecimentos fundamentais: a) alma (síntese das vivências subjetivas); b) o universo (síntese das vivências objetivas) e c) Deus (síntese final e suprema). Kant constata que nenhuma desses objetos podem ser conhecidos pela razão pura (p.49). Hegel não tenta demonstrar a existência objetiva de Deus. Antes indaga como o homem chega a pensar em Deus.(p.64). Deus deve ser visto como aquele que passa por uma história e nela se revela. Este é o tema de sua obra filosófica (p.45) “Deus não é espírito vazio, mas o espírito.” (El concepto de religión, pp 95-96)(p.67).
Capítulo 4 – Wittgenstein e Popper: A Racionalidade científica e a fé
A própria filosofia torna-se teoria da ciência. O processo do iluminismo conduziu o homem ao uso de sua própria razão. O ideal da ciência moderna e: método adequado, clareza e exatidão. A matematização, quantificação e a formalização são insuficientes para abranger fenômenos qualitativos específicos da existência humana como arte, música, religião, o amor, a fé, etc. (p.83). “Todas as teorias são hipóteses; todas podem ser derrubadas” (Popper. Conhecimento objetivo, p. 53). Há problemas genuinamente filosóficos que não se podem esclarecer com meios da ciência empírica: “Somos buscadores da verdade, mas não somos seus possuidores”(Popper. Conhecimento objetivo, p. 100). (p.94).
Ayer diz que todo o discurso inverificável acerca de Deus transcende e carece de conteúdo lógico, de maneira que é absurdo não só afirmar, mas também negar a existência de Deus.(p.96,97).
Capítulo 5 – Feuerbach: Sua crítica da religião e seu ateísmo
“o homem ciou deus a sua imagem e semelhança”
Ludwig A. Feuerbach
“A verdadeira relação entre pensamento e o ser é apenas está: o ser é o sujeito, o pensamento é o predicado. O pensamento provém do ser, mas não o ser do pensamento” (Princípios, p. 31)(p.100). O homem não é só fundamento, mas também o objeto da religião. “a consciência de Deus é a consciência que o homem tem de si mesmo” (A essência do cristianismo, p.55) (p.102). Feuerbach quer uma filosofia que possa satisfazer todas as exigências humanas e considerar o homem em sua realidade concreta material (p.104). Deus, religião e imortalidade são destronados e é proclamada a república filosófica na qual o homem é Deus para o homem (p.105). “O homem para si é homem (no sentido habitual); o homem com o homem – a unidade do tu e do eu – é Deus” (Princípios, p. 98)(p.108). Quando Feuerbach afirma que “o homem é deus para o homem” (…) em Princípios da filosofia do futuro (1843), concebe o homem como ser social, em sua convivência com outros homens: o homem com o homem, a unidade de eu e tu, é deus (p.107).
O cristianismo é a velha religião que deve morrer para nascer a nova religião do humanismo (p.108). Feuerbach destrona Deus e diviniza o homem. O Deus encarnado é apenas o homem divinizado e nada mais: “o Deus encarnado é apenas o fenômeno do homem endeusado” (A essência do cristianismo, p. 93) (p.108). Em (A essência da religião (1845) (…)Feuerbach transforma seu humanismo em materialismo grosseiro. Diviniza a matéria da qual o homem é parte. Funda a religião no sentido de dependência da natureza(p.111).
Capítulo 6 – Karl Marx: A aposta do ateísmo sociológico
O novo humanismo de Marx é ateísmo e comunismo: “O teísmo é o humanismo pela superação da religião, e o comunismo é humanismo pela superação da propriedade privada”, escreveu nos manuscritos econômicos-filosófico de Paris.(p.123). Para Marx o ateísmo é um produto evidente, tão evidente que dispensa qualquer investigação mais séria de sua parte. Deus não passa de uma projeção do homem.(p.125). São as estruturas econômicas que segundo Marx, geram a falsa consciência que é a religião.(p.127). A religião é uma consciência erronia do mundo. Desta maneira a religião age como calmante. “É o ópio do povo”. A religião hipnotiza o homem com falsa superação da miséria e assim destrói sua força de revolta.(p.127). Marx conclui que, sendo a religião reflexa espiritual da miséria rela do homem numa sociedade opressora(p.128).
Capítulo 7 – Freud: A provocação do ateísmo Psicanalítico
Sigmund Freud, o fundando da moderna psicanalise, afirma: “Deus é uma ilusão infantil”(p.137). A neurose é a fuga do adulto ao mundo infantil. Aí os conflitos que não foram resolvidos na infância celebram sua ressureição. Freud vê a religião como regressão do adulto ao mundo ideal da criança. A origem da religião é, pois, o inconsciente, ou seja, o irracional. (p.144,145).
Viktor Frankl (1905), o fundador da terceira escola vianense de psicoterapia, o homem não é dominado apenas por um impulso inconsciente (Freud) ou por um psíquico inconsciente (Jung), mas também por um inconsciente espiritual (Presença ignorada de Deus, 1985. 19). Enquanto a psicanálise percebe o homem como tal autônomo psíquico, a análise existencial percebe o espiritual como o especificamente humano (p.160,161).
Capítulo 8 – Nietzsche: O Desafio do ateísmo niilista
“O último cristão morreu na cruz”
Nietzsche
Nietzsche defende o ateísmo como sendo a posição própria da nova cultura. Nega a Deus porque é inimigo da vida, pois Deus surge em virtude de uma tendência hostil à vida. Diz que o conceito de Deus, inventado como antinomia contra a vida e a religião é essencialmente um processo de aviltamento do homem (p.163).
A vasta obra de Nietzsche apresenta caráter fragmentário, aforístico, totalmente assistemático. A crítica religiosa de Nietzsche está vinculada intimamente a sua concepção de vida e de religião. Considerava a vida o valor supremo. A religião é destruidora da vida, uma categoria de negação teórica e prática da vida (p.166). Em O Anticristo escreve: “O cristianismo defendeu tudo quanto é fraco, baixo, pálido (…)(p.16).” Para Nietzsche nada é tão doentio quanto como a piedade cristã (p.167).
A razão e toda psíquica tem finalidade a serviço da vida biológica. A partir desta visão só pode sustentar o ateísmo, sua visão de mundo e homem é consequência de seu ateísmo. (p.168). “Deus está morto”, com a morte de deus morrem todos os demais valores que giravam em torno do conceito de Deus (p.170). Nesta perspectiva, a morte de Deus significa a liberdade do homem. Só a morte de Deus possibilitará a emancipação do homem (p.171). O filósofo alemão Berhard Welte mostrou que a chave do ateísmo nietzschiano e de sua influência está no interior do próprio homem que o possibilita. O homem deseja evitar um Deus vivo. É uma decisão existencial do próprio homem (p. 172).
Mesmo depois de ter atacado o cristianismo por todos os lados, em 1881 escreveu a seu amigo Peter Gast: “Não importa o que eu tenha a dizer sobre o cristianismo, não posso esquecer que sou-lhe devedor das melhores experiências da minha vida espiritual; e espero que, no fundo do meu coração, jamais venha a ser ingrato para com ele” (apud Lavrin, Janko. Nietzsche, p.60) (p. 180).
Conclusão
Vivemos na luta de cosmovisões antagônicas. Negar toda a possibilidade de conhecimento de Deus seria atitude tão dogmática e arrogante como a de muitos teólogos. Não se resolvem problemas fugindo deles (p. 189). Por isso não podemos de tomar determinada posição, enfrentando o risco da crença ou da descrença. A própria indiferença é uma posição. A opção corre por nossa conta, por conta da liberdade humana (p. 190).
Dados sobre a obra:
Urbano Zilles
Paulus – 8ª Edição, 2010
São Paulos – SP
ISBN – 978 85 349 0928 0