Vivemos grudados nas telas, né? Celular virou tipo um pedaço da gente, prometendo que ia ser tudo mais fácil pra falar com o mundo todo. Só que a socióloga Sherry Turkle já sacou, lá em 2017, que essa facilidade tem um preço. Ela diz que a gente tá trocando papo de verdade por conexão superficial.
Abrimos mão de conversar a fundo, de mostrar nossas fraquezas e de sentir as coisas de perto, tudo por causa de mensagens rápidas, que a gente controla e edita antes de mandar.
Aí, o que rola é a tal da Solidão Conectada: a gente tá cheio de amigos online, mas se sente vazio por dentro; tem informação demais, mas não aprende nada; sabe tudo de como parecer legal na internet, mas não se conhece de verdade. E essa solidão não é só culpa da tecnologia, mas de um problema bem maior na nossa sociedade.
A Ilusão da Realidade: Baudrillard e a Vida Programada
Baudrillard já tinha ligado o alerta antes da internet bombar. Pra ele, a gente vive numa era onde o que é real quase não existe mais, virou tudo cópia. Nossos perfis nas redes sociais não mostram quem a gente é de verdade, só uma versão turbinada, pra gente se exibir.

A Pitty mandou a real nessa música “Admirável Chip Novo”. Ela canta a agonia de ser uma pessoa programada:
Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva
[…]
Pane no sistema, alguém me desconfigurou (PITTY, 2003).
Essa pane no sistema é quando se percebe que está vivendo uma mentira, quando a Solidão Conectada aparece. A gente se força a ser alguém online, mas esquece de ser gente de verdade. Baudrillard diria que a nossa vida digital virou mais importante que a vida real.
Cansaço de Ser Eu: Bauman e Han
Essa Solidão Conectada se alimenta da vida moderna, que Bauman chamou de líquida. Nela, tudo muda muito rápido, as pessoas não se apegam a nada e os relacionamentos viram produtos: a gente usa e joga fora. A internet é perfeita pra isso: dá a impressão de que a gente faz parte de algo, mas sem precisar se comprometer de verdade.
Já o Han, em Sociedade do Cansaço, fala que trocamos a época em que as pessoas mandavam na gente por uma época em que a gente se cobra demais. Ninguém precisa nos explorar, porque a gente mesmo se força a produzir o tempo todo.
E a Solidão Conectada entra aí: a gente tem que ser legal, feliz, bonito e, acima de tudo, aparecer. Só que, no fim das contas, a gente fica esgotado e deprimido. A gente se cansa de ter que interpretar um personagem, e isso nos afasta dos outros. A gente fica cansado demais pra conversar de verdade.
A Visão Cristã: Do Fake ao Real
O que a fé cristã tem a ver com isso? Ela mostra que a gente tá doente e oferece uma cura bem diferente da que a sociedade propõe.
Enquanto a Solidão Conectada é sobre mostrar o ego (a imagem que a gente cria de si mesmo), a mensagem de Jesus é pra gente esvaziar o ego e se importar com os outros.
Primeiro, a fé cristã revela que essa vida de aparência não vale nada. Jesus criticava os religiosos da época, que faziam tudo pra serem vistos. A internet virou um palco pra gente se exibir, buscando likes em vez de ser honesto.
Segundo, a tecnologia nos conecta de longe, mas a fé cristã fala sobre estar perto. A fé cristã não é sobre um deus que manda mensagens, mas sobre um Deus que veio morar no meio da gente.
A solução para a Solidão Conectada é a união de verdade entre as pessoas, com presença, conversa e atenção. Quando Jesus fala sobre o que é importante numa comunidade, ele diz:
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles. (BÍBLIA, Mateus 18:20).
Estar junto assim significa se mostrar, arriscar e até brigar — tudo o que a gente evita nas conversas editadas da internet.
Terceiro, essa vida de performance nos esgota. A gente se cobra demais pra ser nós mesmos (só que uma versão melhorada). Jesus, por outro lado, oferece descanso:
Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo […] porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (BÍBLIA, Mateus 11:28-30).
Esse cansaço é o de tentar se salvar sozinho, se mostrando perfeito o tempo todo.
Conclusão: A Coragem de Estar Presente
Sherry Turkle tem medo de que a gente crie uma geração que prefere falar com máquinas (que não exigem nada) do que com pessoas (que são complicadas). A Solidão Conectada é o resultado de uma cultura que idolatra a imagem, destrói os laços e nos transforma em pessoas que se exploram.
Como a Pitty cantou, fomos programados para o ideal, mas acabamos nos sentindo vazios.
A fé, baseada nos ensinamentos de Jesus, nos chama de volta à vida real. Ela nos convida a abandonar essa vida de aparência na internet e a ter coragem de estar presente.
A conexão de verdade não está nas telas, mas no desafio de Jesus: Amarás o teu próximo como a ti mesmo (BÍBLIA, Mateus 22:39). E esse próximo nunca é um avatar, mas uma pessoa de verdade, com seus problemas e qualidades.
Referências
BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Lisboa: Relógio d’Água, 1991.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Edição Revista e Corrigida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2017.
PITTY. Admirável Chip Novo. In: Admirável Chip Novo [CD]. Salvador: Deckdisc, 2003. 1 faixa.
TURKLE, Sherry. Alone together: why we expect more from technology and less from each other. 3. ed. New York: Basic Books, 2017.



