UMA INTRODUÇÃO SOBRE A GÊNESE DA PSICANÁLISE

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Sigmund Freud, figura icônica no campo de estudo do inconsciente, nasceu em meados do século XIX, em 1856 na cidade de Freiberg, atual Tchecoslováquia. Seu pai, era um indivíduo de posturas rígidas no tocante ao trato com os filhos. Elemento este que contribuirá como fomento para que Freud busque a relação entre a figura paterna e a dinâmica do inconsciente.

Em 1881 se graduou em medicina, já em 1882 o neurologista Josef Breuer apresentou a Freud o método hipnótico com o qual tratava alguns de seus pacientes acometidos de histeria. Foi a partir desse período que o jovem Freud veio a se dedicar mais arduamente ao estudo dos elementos envolvidos nos fenômenos psíquicos, mais especificamente o processo catártico resultante das recordações traumáticas que eram exteriorizadas pela fala do analisado.
Em Estudos sobre a Histeria (1895) encontram-se alguns dos estudos embrionários acerca do método de “cura pela fala”, termo indicado por uma de suas pacientes, Ana O. Cabe lembrar que a livre associação de ideias passou a ser adotado em pacientes despertas, como é o caso de Elisabeth Von R, a qual chegou a criticar Freud, pois, desejava falar mais livremente. Assim, Freud inferiu que haviam forças mais profundas, inconscientes, que operavam como resistências involuntárias, não apenas as de cunho sexual, mas também fantasias reprimidas.
Zimerman esclarece:

Muito cedo, Freud deu-se conta de que era um mau hipnotizador e por isso resolveu experimentar a possibilidade de que a “livre associação de ideias”, conseguida pelo hipnotismo, também pudesse ser obtida com as pacientes despertas. Para tanto, passou a utilizar um método coercitivo, convidando as pacientes a deitarem-se no divã ao mesmo tempo em que, com insistentes estímulos e pressionando a fronte delas com os seus dedos, obrigava-as a associarem “livremente” como uma tentativa de recordarem o trauma que realmente teria acontecido, mas que estaria esquecido, devido à repressão. (1999, p. 22)

De certa forma, a busca por compreender a dinâmica das forças que operam no inconsciente, acaba por revelar a Freud a necessidade de trazer o inconsciente à consciência do analisado, assim, o comportamento é o resultado da soma das forcas operantes no inconsciente e consciência. Cabe ressaltar que os trabalhos de Freud se destacam exatamente deste campo, ou seja, o de buscar compreender os conflitos entre o consciente o inconsciente.

Sobre a Psicanalise e a Ciência

Em 1859 Darwin propôs a humanidade que toda espécie viva teria um ancestral, que, por sua vez se adaptou a fim de superar os revezes que a própria natureza impunha. Darwin destacou a forma como um organismo vivo se adaptava a fim de sobreviver. Neste ponto, o argumento darwiniano declara que a forma como um animal se apresenta nos dias atuais é o resultado de como este ser(seus ancestrais) outrora superaram um estagio da evolução. Em suma: somos, não o agora, mas, a soma de todos os processos vividos, estejamos conscientes deles ou não.
No início de suas pesquisas, Freud vem abrigar suas teorias nos braços da Ciências Naturais (Naturwissenschaft), buscando assim estabelecer as leis e causas que operavam na psique.
O darwinismo teve certa influencia no que tange aos estudos e teorias freudianas. O Autor, em seus primeiros estudos, compreendeu que as forças que operavam no inconsciente tinham o poder de influenciar o comportamento, ele acreditava em um tipo de determinismo psíquico.

Freud leu com atenção as obras de Darwin, o que é comprovado pelo número de vezes em que o cita: nada menos do que treze, ao longo dos Gesammelte Scriften. Sua admiração pelo naturalista inglês só tem paralelo na que tributa a Goethe; o que talvez se tenha notado menos é quanto o modelo de ciência que informa o pensamento de Darwin – e que diverge em pontos importantes do modelo newtoniano – está também presente na maneira pela qual Freud teoriza. (MEZAN, p. 23, 2018)

A intenção é prover uma psicologia que seja ciência natural: isto é, representar os processos psíquicos como estados quantitativamente determinados de partículas materiais especificáveis, tornando assim esses processos claros e livres de contradição (FREUD, 1985/1996, p.347).

O pai da psicanálise chegou a declara que “a razão não governa o comportamento, mas, o inconsciente”. Neste intento Sigmund Freud trás em sua primeira tópica uma serie de estudos que compreendem a concepção de Inconsciente e sua dinâmica, a fim de “tornar consciente o que estiver no inconsciente”.
Tal como indica Zimerman(1999, p. 23), a etimologia do termo “Tópica” vem concepção “topos”, “a divisão da mente em três “lugares” (a palavra “lugar”, em grego, é “topos”, daí teoria topográfica). A estes diferentes lugares ele denominou: Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente.” Cabe ressaltar que essa primeira formulação freudiana foi apresentada na obra intitulada “A Interpretação dos Sonhos” (FREUD, 1900).

A Teoria Topográfica

Tal como já destacado, a teoria Topográfica se refere ao modo como Freud compreende o estructo da Psique. Justifica-se que aquilo que se encontra na consciente (as experiências percebidas) não é o idêntico a aquilo que está no inconsciente, então a finalidade está em trazer para a consciência o que está reprimido no inconsciente.
Freud descreveu a mente a um iceberg, sendo, a parte visível correspondente a Consciência. O Pré-consciente é entendido como parte da mente que ora está submersa, ora toca superfície da consciência. Por fim, há uma parte oculta, submersa, onde abrigam os desejos e experiências reprimidas, as percepções subliminares, memórias submersas, entre outras formas que exercem influencia sobre o comportamento humano. Freud hipotetizou “que os “neuróticos sofrem de reminiscências”, e que a cura consistiria em “lembrar o que estava esquecido”” (ZIMERMAN, 1999, p. 22). Deste modo a tarefa do psicanalista está em, por meio da fala, fazer do inconsciente objeto desvelado.
A Segunda tópica, vem expor o modelo estrutural da psique com bases nos conceitos de consciente e inconsciente já proposto na primeira tópica, contudo, Freud inclui os conceitos de “id”, “ego” e “superego”.
Sobre o “id”, Freud escreve:

No id, não existe nada que corresponda à ideia de tempo; não há reconhecimento da passagem do tempo, e – coisa muito notável e merecedora de estudo no pensamento filosófico – nenhuma alteração em seus processos mentais é produzida pela passagem do tempo… Naturalmente, o id não conhece nenhum julgamento de valores: não conhece o bem, nem o mal, nem a moralidade (1933, livro 28, p. 95).

O “superego” está vinculado ao pré-consciente, e este as tradições, aos valores coercitivos oriundos da figura paterna. Desta forma, “os conteúdos que ele encerra são os mesmos e torna-se veículo da tradição e de todos os duradouros julgamentos de valores que dessa forma se transmitiram de geração em geração” (FREUD, 1933, livro 28, p. 87).
Compete ao Ego, captar e se relacionar com a realidade do mundo exterior, receber e processar os estímulos que vão do prazer ao desprazer, de modo que o Ego busca afastar-se daquilo que lhe causa dor a fim de se estabelecer em um estado de prazer.

Considerações Finais

Claramente, a psicanalise teve suas origens na busca por compreender os conflitos que surgem a priore no inconsciente, mas que se fazem manifesto nas ações vivenciadas pelo consciente. Coube a Freud estabelecer os primeiros estudos sobre o tema e interpretar as produções psíquicas a fim de estabelecer uma relação entre elas para que o analisada possa superar seus traumas e estabelecer uma relação saudável consigo mesmo e o mundo exterior.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREUD, S. (1895) Projeto para uma psicologia científica. Em: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XI. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1996.

FREUD, S.(1932-1936). Esboço de Psicanálise. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

MEZAN, Renato. Que tipo de ciência é, afinal, a Psicanálise? Nat. hum., São Paulo, v. 9, n. 2, p. 319-359, dez. 2007.Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151724302007000200005&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 10 abr. 2018.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 1999.