Ao observar a história da humanidade, percebo que os seres humanos têm uma aptidão, um “dom” para construir templos. Outra característica interessante é achar que podemos também construir um deus que
caiba dentro desse templo, controlá-lo e dizer a ele como deve se comportar, pensar, salvar ou condenar pessoas. Um deus que seja à nossa imagem e semelhança, pois se invertermos os fatores nesta questão, este deus jamais seria controlado por nós, nem sequer caberia dentro de um templo.
É difícil conceber algo que não podemos controlar, não seria nada agradável pensar em uma divindade que esteja além de nosso controle, nosso formato ou regras sociais. Uma coisa é inegável: somos bons em construir templos, desde a antiguidade temos aperfeiçoado nossas técnicas no ramo da engenharia. A Bíblia cita a construção da torre de Babel pelos homens com o intuito de demonstrar nossa capacidade de chegar até Deus, de mostrar a Ele que somos realmente incríveis. Durante os períodos da história podemos perceber a tendência humana de limitar Deus às regras e aos padrões humanos, resultando assim em uma visão antropomorfa do “Theus”, ótica que nos torna semi-deuses, visto que coloca a divindade ao nosso molde. Deus passa a punir, amar, redimir e condenar de acordo com a ótica humana. Façamos uma relação com os mitos gregos do século VI a.C em que observamos a narração mítica como uma forma representativa dos valores morais e éticos da sociedade grega antiga, tal forma torna os deuses gregos demasiadamente humanos, deuses que se iram, arrependem, sentem ciúmes, amam e odeiam. Deuses que precisam de um templo para serem venerados e cultuados, dependem das construções para subsistirem, pois sem elas não conseguiriam se manter vivos, “imortais”, visto que dependem da lembrança e culto prestado pelo homem mortal. Que ironia o imortal depender do mortal.
Século XXI, ainda somos humanos, mortais e construtores de templos, quanto tempo ainda levará para percebermos o tamanho de nosso equívoco? Não foram suficientes as palavras de Jesus de Nazaré quando afirma que o local de adoração não é nem em Jerusalém (Templo judaico) nem em Samaria, pois “Deus é espírito e o importante é que o adoremos em espírito e em verdade” (João 4:20-24)? O que vejo hoje é um monte de templos, se deixamos de construir suntuosos templos passamos agora a construí-los em grande escala, é claro, ainda no formato e para a exaltação do homem. Não há mais o “Templo de Salomão”, visto que o mesmo foi destruído no século VI d.C com a invasão de Jerusalém pelos babilônicos, lembremo-nos que este templo é lembrado por “todos” como templo de Salomão e não templo do Senhor YAHVEH, desde então temos a ideia de que para um templo ser grandioso ele deve levar o nome de um de nós, tal como Salomão ou templo do Reverendo fulano ou Apóstolo cicrano. Sejamos sinceros, quem aqui está sendo louvado afinal de contas?
Vamos então celebrar, cantar e exaltar nosso deus, não o Theus, mas nós mesmos, nossa forma antropomorfa, mortal e insuficiente. Vamos condenar, amar o que para nós é socialmente aceitável e condenar o que nos parece imperdoável, mas lembremo-nos que Jesus disse “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” Mt 16:24