Bauman, Zygmun, 1925-. Modernidade e Ambivalência. Tradução Marcus Penchel. RJ: Jorge Zahar Editora, 1999, 334 pg..
Introdução
O livro inicia procurando demonstrar os conflitos contra uma ambivalência que tem o bojo da desordem linguística, interpretado e refletido como uma falha instigante da linguagem e o respectivo desempenho. A angústia humana em adequar a
situação na busca das ações possíveis que permitam alternativas plausíveis quanto aos sinais da desordem. A ambivalência se reflete no caos e descontrole alarmante e com previsão para o final.
Bauman propõe a “busca da ordem” como saída do projeto modernista, contidas como proposições de Adorno e Horkheimer, ultrapassando os limites interpretativos desses autores. O ser humano a partir da modernidade não fracassou, produziu auto-conhecimento “A ambivalência, possibilidade de conferir a um objeto ou evento mais de uma categoria, é uma desordem específica da linguagem, uma falha da função nomeadora (segregadora) que a linguagem deve desempenhar… A ambivalência é, portanto, o alter ego da linguagem e sua companheira permanente – com efeito, sua condição normal.”, pg. 9.
Na estruturação como classificação dos eventos mundanos, a linguagem representa um mundo com bases sólidas e habitadas pelo homem, no qual o acaso que contingência a sobrevivência do ser, com a condição do aprendizado, poderia não representar uma situação de utilidade prática. O mundo estabelecido em uma ordem imanente, que prosseguiu com as possibilidades de realização de um evento, determinando o grau de sucesso no passado que direcionem a outras formas de acontecimentos futuros.
“Por causa da nossa capacidade de aprender e memorizar temos um profundo interesse em manter a ordem do mundo… . A situação torna-se ambivalente quando os instrumentos lingüísticos de estruturação se mostram inadequados; ou a situação não pertence a qualquer das classes lingüisticamente discriminadas ou recai em várias classes ao mesmo tempo.”, pg. 10.
O mundo era descuidado e irrefletido, a melhor maneira de entendê-lo é a negação de que hoje entendemos da ordem e caos, na qual a modernidade se viu compreendida e refletida. Em um mundo ordenado por um pensamento divino e que jamais teria a possibilidade de entender as descrições da modernidade.
Bauman reflete a naturalidade mundana do ser e descreve que “ordem e caos são gêmeos modernos. Foram concebidos em meio à ruptura e colapso do mundo ordenado de modo divino, que não conhecia a necessidade nem o acaso, um mundo que apenas era, sem pensar jamais em como ser.”, pg. 12.
Hobbes propôs o nascimento da consciência da ordem ou da consciência da modernidade. “Entendia que um mundo em fluxo era natural e que a ordem devia ser criada para restringir o que era natural… ”, pg. 13.
Como se é possível pensar e entender a relação entre a ordem pelo olhar de Bauman e os desafios pela sobrevivência. O pensador nos dá uma pista, que refletiu como “os tropos da ordem: indifinibilidade, incoerência, ambigüidade, confusão, incapacidade de decidir, ambivalência… é pura negatividade. É a negação de tudo o que a ordem se empenha em ser… Sem a negatividade do caos, não há positividade da ordem; sem o caos não há ordem.”, pg.’s 14 e 15.
Ora, a natureza está aí para se apresentar como uma toponímia da ordem sublimentar, mas à distância e ao alcance do ser humano. Então como é possível que por meio do desarranjo da ordem na modernidade, ambivalentes ao poder, a repressão e a ação propositada, o ser encontre a ordem na natureza.
Novamente o autor direciona para “A prática tipicamente moderna, a substância da política moderna, do intelecto moderno, da vida moderna, é o esforço para exterminar a ambivalência: um esforço para definir com precisão – e suprimir ou eliminar tudo que não poderia ser ou não fosse precisamente definido.”, pg. 15.
Por certo, como definido sobre a intolerância como um gesto modernista quanto à desligitimação do outro, enquanto uma ação coletiva e individual.
A relação com o estado moderno refletido como o outro, direcionando a condição de poder que conquista um espaço geopolítico e social, como se não houvesse dono, se vê em uma bifurcação com o controle social coercitivo, conduz a ambigüidade moderna.
“… a soberania do estado moderno é o poder de definir e de fazer as definições pegarem tudo que se auto define ou que escapa à definição assistida pelo poder é subversivo. O outro dessa soberania são as áreas proibidas, de agitação e desobediência, de colapso da lei e da ordem… a resistência à definição coloca um limite à soberania, ao poder, à transparência do mundo ao seu controle, à ordem.”, pg. 16.
Em que sentido a ambivalência se fez presente entre a existência social e sua cultura moderna, considerando que a cultura se contrapõe a sua Majestade que torna viável a presença de um governo. Esta relação permitiu uma tensão entre o que é social e o que é cultura. “A história da modernidade é uma história de tensão entre a existência social e sua cultura.”, pg. 17.
Já a dicotomia presumível como interação para a prática e a visão da ordem social, apresenta a questão do poder como relação entre a posição administrativa e a respectiva oposição, cuja dependência é assimétrica e de um lado depende do outro para a sua existência e isolamento providencial a sobrevivência de ambos.
O livro foca os diversos aspectos que envolvem a luta moderna contra a ambivalência, sendo a fonte principal como fenômeno que busca a sua extinção e qual o acordo gradual da modernidade estabelecido com a diferença, clareando formas de vida pacifistas com a ambivalência.
1. O escândalo da ambivalência
A forma com que a modernidade suplantou o convívio com a natureza na antiguidade, determinando métodos e formas para um efetivo domínio da natureza, tendo como a metafísica, autêntica escudeira de uma empreitada inglória e sem tréguas, levou a técnica a criar uma ordem que tem na classificação das atividades humanas uma profunda ambivalência ao caos, entendido como elemento imanente do estilo vivido na antiguidade. Esse arcabouço humano de pensar, agir desenvolver atividades pelo caminho da cultura científica moderna, utilizou a dominação política, econômica e militar no ocidente, delineando os modos alternativos de vida. Alguns pensadores enxergam como uma “… autodefesa da modernidade, ela obliquamente reafirma e reforça o mito etiológico da civilização moderna como um triunfo da razão sobre as paixões, …a crença de que esse triunfo foi um passo inequivocamente progressista no desenvolvimento histórico da moralidade pública.”, pg. 28.
O período da modernidade está marcado com a cumplicidade do estado com o desenvolvimento da metafísica e a razão convincente dos filósofos, qualificando o poder autodeterminado e soberano sobre as populações desprotegidas, ao convencimento do estilo de viver, por uma indústria cultural determinada a elencar as imanações e orientações do status quo dominante.
“Ao longo de toda a era moderna, a razão legislativa dos filósofos combinou bem com as práticas demasiadamente materiais dos estados,… Legislar e impor as leis da razão é o fardo daqueles poucos conhecedores da verdade, os filósofos.”, pg.’s 29 e 31.
Um dos resultados mais evidentes da suplantação da ética e das restrições morais com que as práticas científicas modernas no ocidente produziram efeitos traumáticos à humanidade, foi o holocausto, que não foi um malefício estanque ao próprio movimento nacional-socialista nazista, mas resultado somente possível com o progresso modernista, com as pesquisas genéticas e de eugenia nos EUA e Europa, tanto é que após a derrota desse movimento nacionalista, cientistas de outros países procuraram defender os avanços da metafísica alemã hitlerista e a democracia-liberal absorveu as descobertas propiciadas pelo holocausto, mesmo com os evidentes engessamentos das populações dominadas.
O nascente estado moderno foi precursor da chamada filosofia fundadora fundamentada por Kant, Descartes e Locke, “… depois de atribuir a Kant, Descartes e Locke a responsabilidade conjunta pela imposição do modelo aos duzentos anos seguintes de história filosófica.”, pg. 34.
Esses pensadores foram movidos pelo sonho de uma humanidade livre da restrição social, política, econômica, única condição que acreditavam, a dignidade humana pode ser respeitada e preservada.
A natureza está à mercê da metafísica, que em aliança com o estado moderno, procuram domina-la e subjugá-la aos interesses desenvolvimentistas.
“A ciência moderna nasceu da esmagadora ambição de conquistar a natureza e subordina-la as necessidades humanas… Despojada de integridade e significado inerentes, a natureza parece um objeto maleável às liberdades do homem.”, pg. 48.
A modernidade realmente reservou ao ser situação de poderio, que enfaticamente resultam em desequilíbrio ao meio ambiente e dominação e alienação do homem. Tudo isto é bem resumido no veredicto de Hans Jonas: “Nunca tanto poder combinou-se com tão pouca indicação sobre o seu uso. Ainda assim há uma compulsão, uma vez existente o poder, para usá-lo de qualquer forma.” nota n° 30, pg. 305.
A modernidade colocou a humanidade em uma encruzilhada ameaçadora, ou aceita o desprezo da ética e desqualificação da moral pelos cientistas ou questiona os valores e ações propostas por estes racionalistas.
“O que a lição do holocausto nos ensinou, porém foi a duvidar da sabedoria pretensiosa dos cientistas ao dizerem o que é bom ou mau, da capacidade da ciência como autoridade moral, enfim da capacidade dos cientistas de identificar questões morais e de fazer um julgamento moral dos efeitos de suas ações.”, pg. 54.
Bauman propõe a saída na pós-modernidade frente a um crescente poder do estado em conluio com a ciência moderna e os políticos racionalistas. “A ambigüidade que a mentalidade moderna acha difícil de tolerar e as instituições modernas se empenharam em aniquilar reaparece como a única força capaz de conter e isolar o potencial destrutivo genocida da modernidade.”, pg. 60.
2. A construção social da ambivalência
Como a verdade se faz presente, frente à ambivalência que a herança da modernidade insiste em desafiar, frente aos caminhos e descaminhos do ser domesticado, que vê na liberdade, as saídas para se auto-reconstruir, é o insistente apelo de Bauman, neste mergulho do olhar para o nativo e o estranho.
Ancorado na pesquisa lingüística sobre o judeu europeu moderno e pós-moderno, que é visto como a um estranho em meio a uma multidão de europeus nativos, principalmente o alemão, o autor procura entender e sentir as emoções vividas pela estranheza ambivalente, num universo liberal-nacionalista. O elo de ligação que une e desune o nativo é a oposição entre o amigo e o inimigo. O estranho se encontra presente, em meio a uma ordem pré estabelecida, surgindo a ambivalência em uma construção social legitimada radicalmente, incompatibilizando a regra de uma ideologia nacionalista. “Ele se situa entre amigo e inimigo, a ordem e o caos, dentro e fora. Ele representa à deslealdade dos amigos, o gracioso disfarce dos inimigos, a fabilidade da ordem, a vulnerabilidade interna.”, pg. 71.
O ser humano dominado e culturalmente domesticado por um meio liberal-nacionalista, tende a desenvolver um ódio a si mesmo, inclusive podendo transformar-se em agressão a sua origem que lhe serve de protótipo e é sentida como a sua coporificação.
A resistência do estranho a assimilação cultural é encarada como desinteresse ou incapacidade de auto-remodelar.
3. A autoconstrução da ambivalência
Bauman como judeu que viveu na Polônia, sentiu em si a condição de “estranho”, sem pátria, onde as relações de socialização se faziam com os intelectuais, que era o meio onde vivia. Os judeus dispersos e em minorias, num país com os costumes e tradições totalmente diferentes, se sentiam completamente isolados e com extrema dificuldade de expressar seu verdadeiro potencial como ser humano. O autor pesquisou e refletiu as emoções emanadas, sentimentos reprimidos e frustrados, rejeições devido as diferenças culturais que percebia entre o nativo e o estranho. Talvez esse estilo social e cultural tenha influenciado no modo pessimista como escreve suas obras sociológicas.
“Ser um estranho significa, primeiro e antes de tudo, que nada é natural; nada é dado por direito, nada vem de graça. A união primitiva do nativo entre o eu e o mundo foi dividida. Cada lado da união foi colocado sob o foco da atenção – como um problema e uma tarefa. Tanto o eu como o mundo são claramente visíveis. Ambos requerem constantemente exame e precisam urgentemente ser “operados”, “manejados”, administrados. Sob todos esses aspectos, a situação do estranho difere drasticamente do modo de vida nativo com conseqüências de longo alcance.”, pg. 85.
No sentido da ambivalência, neste texto os estudos são feitos quanto as relações do estranho com o nativo, suas interações e relações socioeconômica e socioculturais, a política, religião, pensado quanto a individualização, e nesse particular, Bauman descreve a pós-modernidade sob os efeitos da ordem estabelecida e o caos, na busca da autoconstrução da ambivalência.
Os judeus foram os estranhos resultado da pesquisa do autor na Europa ocidental, perseguidos como estranhos universais, desconsiderados como visitantes de outro país, pois não tinham pátria e considerados sem raízes sociais.
Kafka como judeu e escritor universal, pesquisado por Bauman, que escreveu “Foi à atormentada condição judaica de Franz Kafka, vivida dolorosamente, que permitiu aos pensadores Camus e Sartre ver em sua obra uma parábola do transe universal do homem moderno. Ela permitiu a Camus ler Kafka como um insight do incurável absurdo da vida moderna, da estranheza na vida do homem; permitiu a Sartre ver em Kafka a própria definição do estranho: “O estranho é o homem diante do mundo… O estranho é o homem… O estranho é também o homem entre os homens… Enfim, sou eu mesmo em relação a mim mesmo”, pg. 96.
As dificuldades de integração com as sociedades onde viviam os judeus que eram vistos como arrogantes e irredimíveis, e se predispunham a destruir o relacionamento com companheiros de sofrimento, nesta condição os judeus achavam impossível criar uma relação com a sociedade a que pretende se integrar e conviver mutuamente. “Ele próprio um estranho universal e talvez o mais perspicaz dos estranhos universais, Kafka desfiava e delineava os traços universais de estranheza, esse único e verdadeiro herói, embora com muitas faces, de toda a sua obra literária”, pg. 101.
Tomando por fato a era do homem que ocorreu a passagem do estilo de vida nômade para a vida sedentária no cultivo agrícola, chamada de revolução neolítica, o autor compara este momento do ser com o equivalente fato ocorrido com os pensadores que formam a inteligência definida por Mannheim na América da década de 80: “Hoje os marxistas americanos têm gabinetes e vagas de estacionamentos nos campi universitários, compara a atividade dos intelectuais marxistas a um intervalo para o café num seminário…”, pg. 102.
Theodor Adorno, como uma pessoa sem endereço permanente, o estilo do sujeito estranho que não se acomodou com as adversidades nas pesquisas sociais, escreveu: “O que difere do existente parecerá ao existente bruxaria, enquanto figuras de pensamento como proximidade, lar, segurança mantém o mundo imperfeito sob seu feitiço. Os homens têm medo de que perdendo essa mágica, eles percam tudo, porque a única felicidade que conhecem, mesmo em pensamento, é a de ser capaz de ater-se a algo – a perpetração da falta de liberdade”, pg. 103.
Esses pensadores autênticos sempre buscaram a liberdade e se recusaram a produzir sistemas coesos ou academicamente respeitáveis, pois não se envolveram com a política, pretendendo respirar o espírito livre.
4. Na armadilha da ambivalência
Uma situação de atratividade e como conseqüência a angustia de uma minoria na sociedade moderna. A modernidade atraiu as pessoas para uma forma de vida que o autor nomeou como “estado de crônica ambivalência”, com ofertas de liberdade estigmatizada.
A formação da nação-Estado entre os séculos XVI e XVIII, a partir das comunidades com características próprias na Europa ocidental, levou a perda de autogestão comunitária assumida pelo Estado, desestruturando as bases sociais populares, com seus respectivos costumes e tradições, através de obstáculos administrativos nacionalistas. A formação natural do ser a nível local e comunal teve o estilo popular usurpado, ocorrendo a desnaturalização da conduta do ser.
O Estado moderno assimilou as bases sociais naturais e estabelecidas das tradições e formas de vida comunitária, chamada por Geoff Dench como “prisioneiros da ambivalência”. Essas mudanças sociais previam a chegada da “intolerância à diferença”. “O Estado moderno era um poder planejador, e planejar significava definir a diferença entre ordem e caos, separa o próprio do impróprio, legitimar um padrão as expensas de todos os outros. O Estado moderno difundia alguns padrões e se punha a eliminar todos os outros… Desautorizados e, portanto subversivas, essas qualidades agora geravam ansiedade…”, pg. 117.
A assimilação foi uma coerção à própria “ambigüidade semântica”, todas as suas qualidades, em que a escolha era obrigatória e inequívoca. Muitos membros das comunidades foram atraídos e assimilados pela nação-Estado, e as comunidades eram profundamente enfraquecidas na origem, fortalecendo o Estado centralizador. Visava o fortalecimento estatal e eliminação dos grupos comunitários como força de competição efetiva. Esta assimilação proporcional ao engessamento das comunidades através do engajamento dos membros chaves ou mais participativos.
A experiência judaica alemã pesquisada pelo autor como processo de assimilação comunitária pela nação-Estado, já que foi amplamente objeto de pesquisa por judeus nascidos na cultura moderna alemã como Freud, Marx, Kafka e Wittgenstein entre outros pensadores. “Na imagem acadêmica e popular de assimilação judaica, da entrada do judeu moderno (ou da saída do gueto), a história dos judeus alemães ocupa o lugar central e em muitos aspectos prototípica.”, pg. 121.
A pesquisa proposta pelo autor aconteceu na Europa ocidental, onde os judeus tinham condição cultural mais avançada e criativa da diáspora, e na Europa oriental estavam empobrecidos “com estilo de vida de fronteira, inseguro, desafiador e aventureiro”.
Durante mais de um século os judeus de língua alemã, durante o processo de modernização que se encontravam coletivamente inspirando “ideologias, autodefinições e modos judaicos” na Europa ocidental serviram de ruptura para assimilação judia ao iluminismo com a influência da revolução francesa através do nacionalismo moderno alemão. Este estudo esclarece a assimilação na passagem das comunidades com suas tradições e culturas para a formação da nação-Estado moderna, “… eles serviram de área de teste para a viabilidade da assimilação cultural como veículo de integração social numa sociedade em processo de modernização. Pela mesma razão, sua história pode oferecer o inventário mais completo das forças impulsionadoras da assimilação, dos dilemas com os quais confrontam os que as perseguem e dos obstáculos que está fadada a encontrar no caminho para esse alvo.”, pg. 122.
As características individuais dos judeus estudados por escritores do século XVIII, “com sua barba, roupas estranhas e leis cerimoniais completamente irracionais parecia algo menos que um ser humano.”, pg. 123, completamente diferentes dos costumes e tradições européias, bem como alemães, resultou no tratamento aos judeus como estranhos em meio aos nativos alemães. A elite nativa alemã exercia o papel de julgar e decidir como os esforços empreendidos para superar inferioridade cultural dos judeus, principalmente os indivíduos que se inseriam nessa categoria, propondo testes e processos de julgamentos, sem que os pretendentes influenciassem nos padrões de exames ou os resultados. Não se permitia “diferenciação ou declaração de igualdade legal” em relação aos alemães das elites nativas. “O peculiar status legal dos judeus – restrições legais junto com privilégios, exclusões residenciais e ocupacionais junto com autonomia jurídica – tinha que dar lugar a novos códigos universais que não reconheciam prerrogativas de grupo e, portanto não podiam reconhecer a forma legal de discriminação.”, pg. 124.
O autor descreveu vários estudos de casos de indivíduos da intelectualidade judia alemã forçada a abandonar as tradições e cultura, deveriam se pronunciar a elite intelectual alemã que aceitava as condições exigidas e jurar fidelidade à cultura e costume do nacionalismo, se assim não fosse, seriam excluídos na participação desta sociedade.
O Estado na modernidade promoveu a unificação do arcabouço legal, lingüística, cultural e ideológica de todas as comunidades existentes no território que abrangia, através do processo de assimilação dos estranhos ou a nacionalização (centralização) coercitiva. A eliminação da diversidade cultural ou a não permissão de aquisição de cultura diferenciada foi um dos motivos das angustias e frustrações vividas pela população na modernidade.
Karl Marx, cujo pai, na opinião de escritor Murray Wofson, criou o filho com sentimento de vergonha pela origem judaica, se expressou da seguinte maneira quanto ao processo de assimilação alemã: “Por outro lado, se o judeu reconhece que é fútil a sua natureza prática e age para aboli-la, ele se livra de sua condição anterior e trabalha para emancipação humana enquanto tal, voltando-se contra a expressão prática suprema do auto-isolamento humano.”, pg. 157.
A experiência da assimilação na modernidade vivida, refletida e estudada pelos judeus intelectuais alemães quanto ao aspecto social, econômico, jurídico, cultural, tradição, psicanálise, questões da individualidade (estranho), no que se refere as comunidades na Europa ocidental e oriental clarearam a modernidade fracassada que rejeitou a ambivalência (ordem e caos), a diversidade e a contingência.
5. A vingança da ambivalência
Na modernidade, tanto nos EUA como na Inglaterra ocorreu a assimilação étnica judia pelas nações-Estado, citadas pelo autor como “Essa tendência é mais acentuada ainda no caso de países mais afastados do olho do furacão e que, portanto, apenas indiretamente partilham a responsabilidade pelo desastre final.”, pg. 174.
O anti-semitismo francês se mostrou opressor, a convivência se tornou amarga, impossibilitando o reconciliar com as próprias emoções. Crenças anteriormente abraçadas por força de coerção tiveram que ser rejeitadas, desestabilizando o individuo em seus próprios dogmas.
O pensador Simmel pesquisou na sociologia a filosofia do dinheiro na sociedade moderna, a espontaneidade da formação de grupos, a forma instável da sociedade frágil e em constante mudança. No entanto Simmel como acadêmico e judeu estranho sofreu com a assimilação e exclusão no meio universitário alemão, mesmo que tenha sido um dos primeiros intelectuais no começo da modernidade a estudar e pesquisar a repressão da diferença e a rejeição da alteridade.
Bauman pesquisou descreveu neste capítulo, as desastradas conseqüências culturais do projeto de assimilação na sina de suprimir a ambivalência e mesmo assim houve a proliferação, com a descoberta da subdeterminação, ambivalência e contingência como condição humana.
As proposições de pensadores conhecidos como Kafka, Simmel, Freud, Derrida e outros menos conhecidos como Chestov ou Jabís foram apresentadas e revistas neste capítulo.
O direcionamento desencadeado para um cenário social ambivalente à autoconstituição da consciência crítica moderna, dando condição para surgimento do fenômeno cultural pós-moderno.
6. A privatização da ambivalência
A ambivalência explorada com determinação e transcendência contemporânea permitiu a privatização. Com a falta de ações e atitudes concretas da sociedade para erradicar a privatização das atividades humanas, a ambivalência (ordem e caos) e a contingência deslocou da esfera pública à privada.
Conforme demonstrou e escreveu Niklas Luhmann, “com a passagem de uma sociedade pré-moderna estratificada para a sociedade moderna funcionalmente diferenciada (isto é, uma sociedade na quais as divisões atravessam as localizações sociais dos indivíduos isolados), as pessoas individualmente não podem mais ser localizadas de modo firme num único subsistema da sociedade, mas devem antes ser encaradas a priori como socialmente deslocadas.”, pg. 211.
Para definir e explicar minunciosamente a interação social entre duas pessoas na sociedade moderna, o pensador Luhmann chamou de “amor” o fenômeno humano, que busca o fortalecimento dos laços sociais, mas também permite o aparecimento de situações inéditas de frustração e fracassos individuais. O amor para o estranho universal, esse individuo deslocado no mundo moderno, a paixão passou a ser um sentimento frágil e débil que supera a esperança de que esta atitude seja satisfeita de modo verdadeiro.
A psicanálise e outras atividades multifuncionais no campo da relação social passaram a substituir a relação sincera de amizade entre as pessoas, alguns autores chamam de “amor”. Essa relação se tornou privatizada, onde um dos lados aufere lucro com a confiança e neutralidade da relação interpessoal. O mercado acaba ditando as relações interpessoais com situação de difícil autoconstrução e busca da aprovação social, substituindo esses atos reacionais por padrões prontos e moldados. Especialistas multifuncionais procuram resolver problema de relacionamento entre indivíduos ou a coletividade na esfera pública, problemas estes oriundos da esfera privada.
Na relação amorosa entre o masculino e o feminino, o erotismo como embasamento do amor romântico dá lugar a sexualidade e como desejo sexual a parceria social, reduzindo ao desejo sexual e sua satisfação com simpatia e obrigação mútua, tornando uma parceria pessoal plena. Se esta relação é partilhada com outra(s) pessoa(s), o alcance da estabilidade se torna difícil ou fragilizada. A substituição comercial do amor induz ao enfraquecimento e desvalorização do amor romântico, pois expõe às dificuldades neste tipo de relacionamento. Assim as atividades comerciais especializadas se multiplicam, havendo enfraquecimento nas relações afetivas amorosas, com fragilidade e conseqüências de perda no tecido social pós-moderno.
A autoridade social da especialização pode ser descrita como o autor refletiu:
– individualização crescente faz com que a pessoa se feche e contenha em si no sonho de uma vida feliz;
– a identidade ambígua na pós-modernidade gera infelicidade que o individuo procura resolver com o tratamento especializado;
– cada causa de infelicidade tem um tipo específico de solução especializada que o individuo procura solucionar.
O descontrole e frustrações resultados da assimilação da sociedade moderna, com o advento de problemas emocionais específicos direcionam a solução na busca de saídas privatizadas.
As habilidades privatizadas desalojam habilidades interpessoais tradicionais, sem que precisasse recorrer à ajuda externa. As pessoas têm habilidades naturais a sua disposição que permitem a própria solução de problemas individuais.
As ciências controlam fontes de incerteza ou desconhecimento popular, produzindo ciclos de padrão da dependência e poder. O descontrole das autoridades no mundo da vida sacrifica as reais necessidades do ser humano na sociedade moderna.
A fragilidade nascida no culto à racionalidade da escolha e da conduta em si mesmo, preferindo a ordem em vez da diversidade e ambivalência.
7. Pós-modernidade ou vivendo com a ambivalência
As ciências sociais em um amplo espectro para dar uma resposta que convença a sociedade, no que se refere ao arcabouço da modernidade e sua chamada herança na pós-modernidade.
Através das reflexões de Agnes Heller, o autor iniciou o último capítulo da obra Modernidade e Ambivalência com a frase “Poderíamos transformar nossa contingência em nosso destino”. “A contingência do eu moderno, da sociedade moderna – não eram o que as modernas ciências sociais que seus profetas e apóstolos, o que seus pretensos convertidos e beneficiários vendiam.”, pg. 244.
O sonho de uma sociedade com condições de transcender seu ideário fadou ao fracasso com sucesso parcial, ou seja, a promessa que se ativeram às modernas ciências sociais, não ultrapassou um simples “produto racional”, mesmo com o propósito de justificar algum projeto totalmente diferente. Os intelectuais se apegam ao grande mote transvertido de auto-ilusão, pregando o conhecimento visto como “insight da contingência”, violando equivocadamente a natureza verdadeira do seu papel social. Assim escreve o autor sobre esse estimulante tema “… informaram da contingência acreditando descrever a necessidade, expuseram a particularidade supondo falar da universalidade, expuseram a particularidade supondo falar da universalidade, deram uma interpretação tradicional pretendendo uma verdade extraterritorial e extratemporal, mostraram indecisão…”, pg. 245.
A crítica ácida que transpareceu foi que “… a ignorância acabou sendo por assim dizer, um privilégio.”, pg. 245.
O conhecimento sob a luz da verdade e de maneira pacífica tem a tendência de respeitar as fronteiras existentes e como contexto, se transforma em equilibro de forças para se tornar uma “assimetria de poder”. A modernidade usou a verdade como forma de poder na relação social; confundiu-se a diferenciação como sendo universalização em uma evidente auto-ilusão. Partindo do princípio que “… a contingência era aquele estado de desconforto e ansiedade do qual era preciso escapar tornando-se uma norma impositiva e assim se livrando da diferença.”, pg. 247, a esperança como estimulo da vida deixa de ser a tão procurada felicidade e se percebe como uma infelicidade, surgindo à necessidade do aprendizado de vida sem esperança. A contingência passou a ser como a consciência do presente, jamais vista em outra época. A forma de vida arbitrariamente escolhida e partilhada como escolhida e partilhada como escolha individual que é aceita no coletivo, imune ao avanço cultural de outra comunidade ou forma social.
A emancipação, portanto, caracteriza a aceitação da contingência que oxigena a vida e permite a pluralidade de objetivos.
O entendimento dos aspectos da modernidade e pós-modernidade, em que o conhecimento não oferece consenso ou a descrição deixa a desejar, pois outra versão dos fatos são oferecidos ou a versão mais bem testada. A dúvida originada na primeira condição é moderna, a segunda pós-moderna. Essa conclusão é possível pela formatação da cultura moderna sendo a continuidade a pós-moderna.
O esclarecimento a essa questão, o autor utilizou os filmes “O exorcista” de William Blatty, se voltando a análise crítica por meio da psiquiatria, contrapondo com o conhecimento científico e “O presságio” de David Seltzer, no qual se ateve à ciência confrontada com o senso comum. Concluiu nas análises dos filmes, quanto a questionável autoridade da ciência transformadora do ideal da verdade como produção de conhecimento, utilizando a ilusão como forma de proteção à autoridade da ciência contra o descrédito.
A prova cabal da ciência é descrita pelo autor como “o credo da superioridade do conhecimento científico sobre qualquer outro conhecimento. Além disso, desafia o direito da ciência validar e invalidar, legitimar e deslegitimar…”, pg. 257.
Autores como Descartes, o transcendentalismo de Husserl, o princípio da refutação de Popper, as racionalidades construídas por Weber que traçaram a marca característica da mentalidade moderna.
No texto a seguir, Bauman descreve com clareza a construção do conhecimento, onde “A modernidade atinge esse novo estágio quando é capaz de enfrentar o fato de que o aumento do conhecimento, onde “A modernidade atinge esse novo estágio quando é capaz de enfrentar o fato de que o aumento do conhecimento expande o campo da ignorância, que a cada passo ao horizonte novas terras desconhecidas aparecem e que, para colocar a coisa de maneira mais genérica, a aquisição do conhecimento não pode se exprimir de nenhuma outra forma que não a da consciência de mais ignorância.”, pg. 258.
O conhecimento é frontalmente imaginado pelo autor como maneira de distribuir essa gama de acervo equitativamente e reflete “Uma idéia compartilhada, ao contrário, promete um abrigo: uma comunidade, uma fraternidade ideológica, de destino ou missão. A tentação de compartilhar é esmagadora. E, a longo prazo, difícil de resistir.”, pg. 260.
A comunidade como forma de vida, se apóia na tradição para extravasar o entusiasmo popular. Pensadores como Kant, Tönnies, Lyotard, Habermas, Maffesoli, Bernstein, Mauffe, Hobsbawm, Anderson entre outros pensaram a comunidade, sua organização “por dentro” como individualidades que se identificam, e Bauman descreve como “As tribos do mundo contemporâneo, ao contrário, são formadas – como conceitos, mais do que corpos sociais integrados – pela multiplicidade de atos individuais de auto-identificação.”, pg. 263. A comunidade depende da aceitação por seus membros sobre o consenso da homogeneidade com que suas buscas alcançam um ideal comum.
A análise crítica dos intelectuais que elaboram conclusões dos poderes modernos que buscavam eliminar o outro, o diferente, o ambivalente, enquanto os autênticos intelectuais separaram a verdade do embuste, o conhecimento da ilusão, a solidariedade da tolerância. Bauman relembra característica peculiar da pós-modernidade com o apoio da condição universal praticada e aceita como forma de vida “De repente, um número crescente de cientistas sociais descobre que a regulação normativa da vida diária é com freqüência sustentada por iniciativa de base popular de natureza heterodoxa e tem de ser protegida contra transgressões de cima.”, pg. 326, nota 19.
A verdade como esclarecimento transcende o individuo comum e leva o conhecimento a um nível de destaque na pós-modernidade, separando o verdadeiro do falso, o conhecimento da mera opinião.
O autor descreve o pensamento quanto à tolerância que se defende dos inescrupulosos, evitando ser uma presa fácil, transformando em uma determinação de vontade firme e decidida, “Só pode evitar agressões quando se transforma em solidariedade, no reconhecimento universal de que a diferença é uma universalidade que não está aberta a negociação e que o ataque ao direito universal de ser diferente é o único afastamento face a universalidade que nenhum dos agente solidários, por mais diferente que seja, pode tolerar, exceto com perigo para si e todos os outros agentes.”, pg. 270.
Na pós-modernidade surgiu a solidariedade como um diferencial a tolerância, como uma busca para algo que se limitava a simplesmente aceitar as condições impostas, e surgiu com a disposição para lutar, reconhecer a diferença alheia, não a própria, orientando socialmente para uma outra condição do ser. O autor dirige o olhar à sociedade insensível as dificuldades dos que vão mal, “Estes aceitaram e declararam que poucos podem fazer para melhorar a sina dos outros. E até conseguiram se convencer de que, uma vez que a engenharia social se revelou essencialmente podre, o que quer que decidam fazer só pode piorar as coisas ainda mais.”, pág. 273. Mas o caminho contrário que leva à gentileza, no entanto basta um pequeno passo para o caminho da volta.
Contrapondo os discursos de Nietzche e Scheler, Bauman relata a apatia da pós-modernidade, que resulta em fracasso causado por uma privatização social dos problemas humanos e a responsabilidade por sua solução, “A política que reduziu as responsabilidades assumidas em relação a segurança pública, retirando-se das tarefas da administração social, efetivamente dessociolisou os males da sociedade e traduziu a injustiça social como inépcia ou negligência individual.”, pg. 276. O mercado gera efeitos perversos sobre as estruturas políticas e sociais pós-moderna. A mercantilização camufla soluções para as questões comunitárias, a organização de vida coletiva e a administração pública da sociedade, engessando os indivíduos e comunidades em suas reais possibilidades de ação concreta. Mas também não deixa de mostrar a saída para desarticular a estrutura mercantil através da solidariedade e tolerância recíproca, evitando assim os riscos e perigos sociais.
O socialismo moderno foi à contracultura da modernidade, expondo as contrariedades da sociedade em sua promessa, resistência a não efetivação dos avanços da modernidade e contribuiu para a concretização do pleno potencial da sociedade. A incapacidade do socialismo em transformar a natureza para fins humanos sem o inconseqüente dano ambiental irreversível. O socialismo elegeu prioridades a serem cumpridas e pregava que o capitalismo jamais conseguiria suplantar na modernidade, como superar o potencial dos instrumentos e técnicas disponíveis de forma mais eficaz, racional e criativo ou mais produtivo através da engenharia social. Em vez de cumprir as metas prometidas, causou prejuízos e violentou a natureza sem produzir as riquezas previstas, com elevada devastação. A igualdade como forma de ideologia social foi um fracasso, restringindo a liberdade individual. A fraternidade não existiu como se apregoava, mas sim a perda da liberdade. Do sonho ao milagre findou na transformação do desastre impensado. Tanto o socialismo como o comunismo foram sistemas unilaterais preparados para mobilizar os recursos sociais e naturais nos ditames da modernização e sua fraqueza somou absurdos e as próprias contrariedades. Afinal os valores pós-modernos foram desacreditados no ocidente com a poluição e aventuras modernizadoras fracassadas.
Um dos maiores motivos do fracasso socialista e comunista foi à planificação social centralizada, não despertando defensor da integridade moral e razão após seu fim. A administração centralizada e planificada tem um custo social elevado à sociedade, a distribuição dos benefícios foi profundamente desigual e injusta.
Os equívocos se repetem na pós-modernidade, produtora de injustiças, mesmo com exemplos na história do passado, a planificação torna a sociedade pior do que é.
“A conquista da natureza produziu mais desperdício do que felicidade humana.”, pg.291.
A modernidade foi uma obsessiva marcha adiante, nunca conseguiu o bastante, que a satisfizesse, suas aventuras se tornaram amargas e ambições frustradas. A pós-modernidade é uma continuação ao projeto não concluído e descartado da modernidade. A auto-reprodução de um passado remoto conduz a pressão dos interesses e esperanças não satisfeito, mesmo que seja abandonado por aqueles que vêem com nojo esse passado. Habermas pensou com conhecimento quando fala do “projeto inacabado da modernidade.”
A inspiração da alma do ser foi intoxicada com o alimento da pós-modernidade em um Estado omisso, e o capitalismo mercantilista concorre e supera através de efeitos ilusórios a organização administrativa pública. O fracasso antecipado do capitalismo na pós-modernidade não consegue camuflar os males da sociedade; questão ambiental como a camada de ozônio se mostra transparente com riscos imediatos, transporte público é o “calo de Aquiles” nas grandes metrópoles, explosão irracional da frota de veículos e sua relação com a empregabilidade em todos os continentes, caos da saúde pública mesmo em países ricos.
A privatização da tolerância conduz a uma indiferença nunca imaginada, com o mercado guiando a tolerância, produzindo isolamento e frustração. “Cada vez menos pessoas acreditam hoje na capacidade mágica do crescimento econômico de da expansão tecnológica. Uma coisa que as pessoas acham que a tecnologia produz infalivelmente e cada vez mais é um crescente desconforto e perigo – novos riscos, menos previsíveis e remediáveis.”, pg. 292. Muitas pessoas se conscientizam e passam a entender os problemas acarretados na pós-modernidade, principalmente os limites do mercado privatizado.
As justificativas se multiplicam para a efetiva manutenção da exclusão social na pós-modernidade com a aceitação tácita da sociedade, Estado e intelectuais. Bauman aponta para a revisão histórica de uma ampla reforma na formatação política, a democracia e a plena cidadania como veículos para sua realização. Um dos caminhos propostos a uma resposta na modernidade é a política como chance a uma sociedade mais justa, sem a política haveria abandono aos critérios do mercado. A pós-modernidade não apregoa o fim da política ou o fim da história, e sim um maior compromisso político com mais eficácia na ação individual e comunitária. O confronto entre o mercado de consumo e a administração popular tem demonstrado às saídas pelo autor, quer na reorganização comunitária e solidariedade como forma de integração social e coexistência pacífica. A proposta a administração pós-moderna é assumir com a verdade uma “privatização da dissensão, tornando-a difusa”, ou seja, refazendo ações no encontro da inserção social, desenvolvendo espaços na sociedade como formação de “comunidades solidárias”, no respeito ao meio ambiente degradado desde a modernidade, desfazendo o ideário da acumulação destrutiva e frustrante. Um novo rearranjo do sistema transforma e conduz a uma nova ordem social e política, conferindo a sociedade pós-moderna um efetivo suporte a ambivalência.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Programa de Pós-graduação em Sociologia Política
Disciplina: SPO 7007 – Sociologia do Racionalismo
Semestre: 2008.2
Professor: Phd Carlos Eduardo Sell
Acadêmico: Adhemar Tavares Vieira Filho