Diploma da incompetência: 17% dos brasileiros com ensino superior são analfabetos funcionais, revela INAF

Compartilhe em sua Rede Social

Um em cada seis brasileiros com diploma universitário não consegue interpretar textos simples ou aplicar a matemática no dia a dia. Dado acende alerta sobre a qualidade da educação desde a base até o nível superior.

Goiânia – O diploma de ensino superior, tradicionalmente visto como o ápice da jornada educacional e um passaporte para as melhores oportunidades, não tem sido garantia de competências plenas em leitura e escrita para uma parcela significativa da população. De acordo com os dados mais recentes do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgados em 2024, alarmantes 17% dos brasileiros com formação universitária são considerados analfabetos funcionais.

O estudo, conduzido pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa, classifica o letramento da população em diferentes níveis. Os resultados mostram que, no grupo com ensino superior completo, 4% estão nos níveis mais básicos de analfabetismo (rudimentar), enquanto outros 13% se encontram no nível elementar. A soma desses dois grupos constitui o contingente de analfabetos funcionais – pessoas que, apesar de terem frequentado uma universidade, possuem grandes dificuldades para interpretar textos, identificar ironias, opinar sobre um tema ou aplicar conhecimentos matemáticos em situações cotidianas.

Na prática, isso significa que um profissional formado pode ser capaz de decodificar palavras, mas falha ao tentar entender a fundo um contrato de trabalho, analisar um gráfico de desempenho ou redigir um relatório coeso e bem argumentado.

Um Problema que Vem da Base

Embora o índice de analfabetismo funcional entre diplomados seja muito inferior à média nacional – que atinge 50% da população geral entre 15 e 64 anos –, a existência desse fenômeno no topo da pirâmide educacional é um sintoma preocupante.

Para especialistas, o dado revela uma falha sistêmica que começa muito antes da universidade. Uma educação básica frágil, muitas vezes focada na memorização para passar em exames de acesso como o Enem, em vez de cultivar a interpretação crítica e o raciocínio lógico, acaba por entregar alunos ao ensino superior sem a base necessária.

“A universidade, em muitos casos, não consegue reparar as deficiências que vêm do ensino fundamental e médio. O foco recai sobre o conteúdo técnico da profissão, partindo do pressuposto de um letramento que, na realidade, não está consolidado para uma parte dos estudantes”, analisa um especialista em políticas educacionais.

O Outro Lado da Moeda: A Educação como Saída

Apesar do cenário preocupante, o relatório do Inaf também reforça que o ensino superior ainda é o caminho mais eficaz para o letramento pleno. A grande maioria dos formados, um total de 82%, atinge os níveis mais elevados de proficiência: 43% no nível intermediário e 39% no proficiente.

Esses indivíduos são plenamente capazes de se expressar, argumentar, interpretar materiais complexos e resolver problemas, destacando uma profunda desigualdade na qualidade da formação oferecida dentro do próprio sistema de ensino superior.

O desafio que os dados do Inaf 2024 impõem ao país é claro. Não basta apenas democratizar o acesso às universidades; é imperativo garantir a qualidade do ensino em todas as etapas, desde a alfabetização infantil. O Brasil precisa de profissionais que sejam não apenas diplomados, mas verdadeiramente competentes. A transformação do diploma, de um mero certificado de frequência para um selo de proficiência real, é a pauta urgente para o futuro do desenvolvimento nacional.

Fonte: Os dados foram extraídos dos arquivos do relatório do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2024 e podem ser consultados no site oficial: https://alfabetismofuncional.org.br/